Primeira festa do ano é em honra do orago dos animais

Nos dois últimos dias do mês de maio e nos dois primeiros de junho vai decorrer a festa em honra do orago dos animais domésticos, Santo Antão Abade. Desta forma, abre-se o ciclo anual das comemorações festivas da freguesia no que se refere ao seu acervo tradicional.

Aquela manifestação de sentido vincadamente religioso cristão que contém uma componente profana comum à maioria das celebrações festivas que visam homenagear figuras santificadas da Igreja Católica, tem raízes que transportam de um passado longínquo a invocação dos poderes do patrono dos seres domésticos úteis aos donos, Santo Antão, rogando graça que os proteja contra males e doenças nefastos.

Filho de pais humildes, fiéis à doutrina do cristianismo ainda em evolução, Antão nasceu no Egito no início da segunda metade do século III d.C.. Tendo ficado órfão quando tinha apenas 20 anos. Tocado pela evocação de um ensinamento bíblico que o impressionou, e tendo-se entregue alguns anos à lavoura decidiu alienar os bens da herança recebida, e após o casamento da sua única irmã isolou-se no deserto onde deu início a uma vida de contemplação e oração. Outros seguiram a sua vocação e exemplo, indo viver com ele, formando-se uma comunidade de orientação monástica que se expandiu através da sua influência e santidade.

Santo Antão Abade mora numa capelinha modesta erguida no lugar que tem o seu nome nesta freguesia, num pequeno outeiro com vista de 360º graus. É ali que decorre (decorria…) a concentração dos animais domésticos para a benção especial após a chegada da solene procissão vinda da igreja paroquial, com a proclamação de sermão a salientar a vida e obra do orago, bem como o fim do preito que lhe era dedicado.

Até há algumas décadas atrás, a celebração da festa coincidia com a quinta-feira da Ascensão, “dia da espiga” noutras latitudes, que ocorria 40 dias após a data da Páscoa. Era dia santificado e os cristãos católicos abstinham-se, sobretudo, dos trabalhos de campo. Quando se alterou aquela prerrogativa, o evento passou para o domingo seguinte, mantendo-se até hoje.

A transformação que a vida das comunidades rurais sofreu a partir dos meados do século passado, teve como consequência maior o fim da atividade agrícola tradicional e o desinteresse pela criação da raça bovina que em Lanheses desapareceu. Sucedeu-se um período em que se criaram vacarias com animais para a produção de leite, estando todas praticamente extintas.

Sem animais, a evocação festiva de Santo Antão não faz sentido ainda que possa haver quem, fiel ao orago e à tradição, lá compareça levando dois ou três exemplares caprinos, um ou dois equinos, um ou outro animal de estimação. Pouco, quase nada, comparado com dezenas ou centenas que lá se congregavam vindos de todos os lugares da freguesia e de outras limítrofes.

Em romaria, lavados, escovados, nutridos, luzidios de chifres e com cangas ornadas com ramos verdes e flores, levados à soga pela moça vestida à minhota, ao som de animada concertina e coros bem timbrados, conferiam à manifestação o caráter distinto da sua promoção e o sentido transcendente subjacente à sua efetiva decorrência. Ah! Festa sempre haverá enquanto cabritos morrerem para belo sarapatel manjar!

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