Ricardo Simões: postos de trabalho no cerne das preocupações

 

Ricardo Simões é o diretor artístico da companhia profissional residente no Teatro Municipal Sá de Miranda e, nesta altura de pandemia e confinamento, falou-nos da vida da mesma. Uma entrevista para ler com atenção.

 

A Aurora do Lima (AAL): Como está a reagir à pandemia o CDV?
Ricardo Simões (RS): O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana está em regime de teletrabalho desde o dia 13 de março. Encerrámos temporariamente o Café Concerto do Teatro Municipal Sá de Miranda e tivemos que recorrer ao lay-off relativamente aos três profissionais de hotelaria que ali empregamos.
Quando suspendemos a atividade, deixaram de se realizar 32 récitas do espetáculo “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, que ia ser visto por mais de 7.000 crianças, numa operação com apoio logístico da autarquia. Apenas este facto representou uma perda de receita na ordem dos vinte e oito mil euros. Se somarmos os demais cancelamentos de atividades por parte da autarquia, são quase sessenta mil euros de prejuízo. Claro que, neste momento, as autarquias têm que priorizar a questão sanitária. Mas confiamos que, a seu tempo, equilibraremos com a autarquia vianense os prejuízos provocados pelo cancelamento forçado das atividades que já estavam protocoladas, conforme prevê a legislação que a Assembleia da República aprovou que permite e incentiva as entidades públicas a honrar os compromissos culturais preexistentes à pandemia, mesmo nos casos em que estes não se realizaram.
Para já, mantemo-nos a aguardar e a tomar decisões de forma faseada, proporcional e ajustada à evolução da situação sanitária e social que estamos a viver, em estreito diálogo com os nossos parceiros.

AAL: Como interagem com os vianenses via internet?
RS: Através do ciclo “O Teatro do Noroeste Em Sua Casa” que, de 16 de março a 9 de abril transmitiu 27 vídeos de 27 espetáculos em 27 dias, de vários autores, encenadores e intérpretes e que, agora, até 30 de abril, continua com atividades diárias para vários públicos nos nossos canais de comunicação no Facebook e no Youtube.
Esta iniciativa tem sido um enorme sucesso e um bálsamo para a nossa Equipa, que se mantém a trabalhar de forma coesa e com o mesmo afinco diário, ainda que a partir de casa. Quando soubemos que teríamos que suspender atividades, pensámos em formas de continuar a chegar aos nossos públicos regulares, que são os cidadãos da cidade e região de Viana do Castelo, assim como de todo o Alto Minho mas, também, de Esposende, Barcelos e Braga.
Mas a verdade é que “O Teatro do Noroeste Em Sua Casa” chegou, e continua a chegar, também a todo o país, incluindo ilhas e, mesmo, a espetadores em Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Inglaterra e Canadá, num alcance de mais de 100.000 pessoas, o que é surpreendente.

AAL: Estão convictos de que vamos sair todos mais fortes desta crise pandémica?
RS: Presentemente, o Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana é o maior empregador do setor artístico no Alto Minho: tem uma Equipa de 16 pessoas a tempo inteiro e 8 prestadores de serviços regulares, para além dos técnicos e artistas que contrata a título pontual para cada diferente iniciativa.
Por isso, estamos a viver toda esta situação com muita preocupação, como qualquer agente económico. A manutenção dos postos de trabalho dos nossos colaboradores continua a ser o cerne da nossa preocupação. Ainda é cedo para sabermos se e como vamos sair desta crise. Basta pensar que as pessoas só voltarão a sentar-se num teatro quando tiverem a certeza que isso não põe em causa a sua saúde, por isso, a crise maior e mais difícil de ultrapassar, vai ser uma crise de confiança.
No entanto, esta Equipa do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana tem sabido e conseguido ultrapassar problemas de sustentabilidade ao longo da sua história de 28 anos de atividade continuada. Somos a mais antiga estrutura de criação artística profissional em atividade no Alto Minho e, desde o início, em 1991, Companhia Residente do Teatro Municipal Sá de Miranda.
Em estreita parceria com a Câmara Municipal de Viana do Castelo e em diálogo com a Direção-Geral das Artes do Ministério da Cultura, assim como com os nossos parceiros, patrocinadores, cooperadores e (os últimos são os primeiros) com os nossos públicos, que tanto apoiam o nosso trabalho, mantemos a convicção que vamos conseguir ultrapassar mais esta dura provação que, neste momento, afeta todo o Mundo e todos os setores de atividade.

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