Recordar é algo que pode marcar positiva ou negativamente as pessoas. Sim. É viver o passado! Embora traga à memória, por vezes, cenários amargos, também é certo que pode abarcar aspectos que nos enchem de uma saudosa alegria. Todos possuímos bons e maus momentos, aliás, é “uma verdade de La Palice”.
O Inverno deixou-nos. Apareceu a Primavera, que vem trazer-nos o bálsamo sublime do bom tempo. Tanto a planta que permanece no vaso da janela ou na varanda das casas, bem como as flores silvestres que se desenvolvem entre o mato bravio que reveste as montanhas, ou nos campos agora a verdejarem em harmonia com os jardins públicos da nossa região, ao chegar esta época, tudo sofre uma espécie de metamorfose, que nos dá a ideia exacta da estação do ano que decorre. O ar livre espera por nós, num desdobramento de maravilhas, através de uma sinfonia de cores como só no Alto-Minho se pode constatar. Como é tenra e macia a verdura das leiras iluminadas! Repare-se no contraste desses verdes, na sombra dos valados e no grito de luz que se desprende das planícies ensopadas em sol.
No actual universo da natureza, perante o ambiente verde e florido que nos envolve, junto das capelas, no alto dos montes que encimam os povoados, e nos terrenos que os ladeiam, erguem-se japoneiras que exalam um perfume aromático, atento o contacto dos botões, ainda em flor fechada, a abrirem-se na presença da vida e, em simultâneo, desfruta-se um panorama que a vista não cansa de admirar. É a terra a transformar-se, face às estações do ano, no conjunto com as festividades, que também possuem as suas épocas, neste calendário do viver. Nesta festa campestre primaveril surge o Domingo de Páscoa, que este ano aparece nos inícios do mês de Abril, depois das andorinhas já terem chegado, batendo com as suas asas negras nos beirais, ainda húmidos das nossas casas, ao construírem os seus ninhos.
No Minho, tradicionalista e católico, a Páscoa é considerada, em conjunto com o Natal, as maiores festas do ano. As gentes de Viana e do seu concelho vivem momentos alegres, na sua vida, agora, bastante receosos devido ao covid-19 e à importação das suas variantes, atentos os maiores gestos de piedade e de crença, no contexto das mais belas atitudes de generosidade e fraternidade. E nas aldeias verdecentes e airosas de certeza que os foguetes voltarão a estoirar nos ares, entre bençãos, música e flores, controlada que esteja a traiçoeira pandemia, permitindo que as gentes possam, de novo, agrupar-se com a chegada do provincianismo Compasso. Nesta quadratura da existência humana vale a pena, sim, recordar… Lembro o Dr. José Crespo, médico, escritor e cientista, que viveu e faleceu na cidade de Viana do Castelo, perante um dos livros da sua autoria “O Minho Região de Beleza Eterna”, descrevendo, em linhas de perfeita harmonia e forte narrativa, a Páscoa no Minho. Cito um pequeno excerto dessa vasta obra literária: “Domingo de Páscoa, dia da Cruz na aldeia, o dia solene do lavrador minhoto” ..” A Páscoa no Minho é uma festa enternecedora e santa”…
Nota – Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.