“Encontramos mais oportunidades de reduzir o desperdício alimentar”

Com 27 anos, Sandra Pereira assumiu a coordenação do núcleo da Refood em março de 2021, e à conversa com o “A Aurora do Lima” fala dos desafios desta pandemia para a Instituição que é voluntária e tem como objetivo combater o desperdício alimentar e proporcionar uma refeição a todas as pessoas, que dela carecem.

Apoiando atualmente mais de centena e meia de pessoas, o núcleo Refood continua a receber “diariamente pedidos de apoio”. A pandemia de Covid-19 acentuou os pedidos de ajuda, mas também permitiu a reorganização do núcleo e a procura de novas fontes de alimentos. Com o fecho dos restaurantes, nos períodos mais críticos da pandemia, estabeleceram parcerias com super e hipermercados.

Há quanto tempo existe o Núcleo Refood de Viana do Castelo?
O núcleo da Refood em Viana existe em funcionamento há quatro anos, sendo que começou a dar os primeiros passos em setembro de 2014 com uma primeira reunião. Em fevereiro de 2015 foi realizada a reunião de sementeira, que consiste na apresentação oficial do projeto à comunidade, na qual esteve presente o fundador da Refood, Hunter Halder. Posteriormente, em dezembro de 2016 deu-se início às primeiras recolhas e distribuições de alimentos. Em janeiro de 2017 foi então inaugurado o espaço onde nos encontramos neste momento e é desde aí que a Refood em Viana do Castelo está em pleno funcionamento.

Qual a área de intervenção?
A Refood atua na sociedade com o objetivo de resgatar comida excedentária de diversas fontes de alimentos e distribuí-la por pessoas que não teriam uma refeição, ou pelo menos tão completa, no seu dia-a-dia. É um esforço eco humanitário e 100% voluntário, efetuado por e para os cidadãos, a nível micro local, convidando toda a comunidade a estar incluída neste movimento.

Quantos utentes apoiam atualmente?
Neste momento fazem parte da nossa lista de beneficiários 156 pessoas, sendo que 26 delas são crianças. No entanto, todas as semanas chegam-nos pedidos de ajuda, os quais tentamos apoiar da melhor forma que conseguimos até que fiquem definitivamente na nossa lista de beneficiários.

De que forma foram afetados pela pandemia de Covid-19?
No início da pandemia, em março de 2020, encerramos o nosso centro de operações por prevenção da saúde de todos (voluntários e beneficiários), mas também porque as nossas fontes de alimentos, os restaurantes e cafés, tiveram de encerrar. Os nossos beneficiários tiveram apoios de outras instituições da cidade e, assim que nos sentimos mais seguros, começamos a receber, no nosso centro de operações, alimentos não perecíveis, através de doações da população vianense, e a fazer cabazes, os quais entregávamos em casa dos nossos beneficiários. Na hora de desconfinar não tínhamos as fontes a que estávamos habituados, tivemos então de procurar novas fontes de alimentos. Este foi o principal desafio em tempos de pandemia! Foi desde então que alguns dos super e hipermercados da nossa cidade se juntaram a nós para nos entregar os excedentes alimentares que tinham diariamente. Um pouco diferente do que estávamos habituados, temos agora muita fruta, legumes, laticínios, entre outros, quando antes da pandemia estes eram alimentos que nos chegavam esporadicamente. Desta forma, fomos afetados pela pandemia de uma maneira positiva, pois encontramos aqui mais oportunidades de reduzir o desperdício alimentar. Além de termos de procurar novas fontes de alimentos, que acabou por ser um aspeto positivo, a pandemia também nos afetou no número de voluntários, este reduziu drasticamente. Com o facto de termos restrições no número de pessoas que pode estar dentro do nosso espaço esse problema foi ultrapassado, no entanto, o ideal seria termos tido equipas espelho, de duas em duas semanas, o que não foi possível por essa diminuição do número de voluntários disponíveis. Continuamos a precisar de mãos amigas para nos ajudar nesta missão. Desafio aqueles que têm duas horas por semana a juntar-se à nossa equipa. Podem contactar-nos através da nossa página de Facebook “Refood Viana do castelo”, ou então no nosso Centro de Operações, de segunda a sexta, a partir das 19h. O nosso Centro localiza-se na Avenida General Humberto Delgado.

Certamente tiveram de readaptar a vossa atuação?
Sim, readaptamos as fontes de alimentos, como já foi referido anteriormente, mas não só. Segundo as recomendações da DGS tivemos de limitar o número de pessoas dentro do nosso centro de operações, e também limitar o número de beneficiários que ficam fora, à espera para levar a refeição que lhes é entregue. Desta forma, dividimos os beneficiários por dias diferentes para entregas. Do total de famílias que apoiamos algumas vão buscar refeição às segundas, quartas e sextas-feiras e outras vão às terças e quintas-feiras, quando anteriormente iam de segunda a sexta-feira. Como em qualquer estabelecimento público, tivemos de nos adaptar também ao uso constante do álcool gel e ao uso de máscara sempre que estamos a fazer voluntariado, tentando manter alguma distância uns dos outros e, no caso de haver algum sintoma por parte de algum voluntário, ou de este ter tido algum contacto de risco, é aconselhado a não se deslocar à Refood.
Com a pandemia de Covid-19 notaram um aumento do número de pedidos de apoio?
Sim, um aumento bastante considerável! Antes da pandemia apoiávamos cerca de 60 pessoas. Este número cresceu exponencialmente ao longo dos meses de pandemia e neste momento, temos além das cerca de 150 pessoas que apoiamos, mais de 50 pessoas que nas últimas semanas têm procurado inscrever-se para receber o nosso apoio.
Quais as principais dificuldades em implementar a vossa missão?
Em geral a nossa missão em Viana não registou muitas dificuldades na sua implementação. Ao dar início à divulgação houve bastantes pessoas que se interessaram pelo projeto e graças a isso, foi possível iniciá-lo. Este foi seguindo os passos certos e a comunidade local sempre nos apoiou. Notamos mais dificuldades agora na prossecução da missão. Necessitamos de um fluxo maior de entradas de voluntários e não podemos parar de tentar chegar a todas as pessoas, tanto as que têm carências alimentares como todas aquelas que gerem potenciais fontes de alimentos ou empresas, das mais variadas áreas, que possam ser nossos parceiros.
As autoridades locais são sensíveis às vossas preocupações?
Sim, neste caso a Câmara Municipal de Viana do Castelo apoia a nossa missão incondicionalmente, tanto com apoios financeiros que tem para as IPSS’s como em determinados eventos que fazemos.
Quais os vossos projetos a curto prazo?
A curto prazo estamos um pouco limitados por causa da pandemia. Esperando que seja para breve o regresso à normalidade, temos pendentes alguns eventos que ficaram adiados, como aconteceu com toda a comunidade. Temos pensado também em alguns convívios entre os voluntários dos vários dias da semana. Continua também nos nossos planos encontrar um novo espaço físico, mais amplo e mais adequado à nossa operação para responder às circunstâncias que esta pandemia nos trouxe.

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