“Esta situação foi rápida e tem um impacto brutal”

A Associação Empresarial de Viana do Castelo está no terreno a acompanhar a reabertura dos espaços comerciais. Além desta preocupação, o presidente da estrutura fala do cancelamento das festas da Senhora d`Agonia, que vai obrigar a “adaptações”.

O projeto “Viana Market”, que está a ser desenvolvido será disponibilizado aos empresários e “irá andar, de mãos dadas, com a digitalização da Romaria d’ Agonia”.

Sem surpresas para o cancelamento da Romaria, Manuel Cunha destaca o foco na saúde e bem-estar da população e dá conta das implicações económicas na região. Aquele líder enaltece ainda todo o trabalho dos empresários da região.

A Aurora do Lima (AAL): Já foi noticiado que a Romaria d`Agonia não se realizará nos moldes tradicionais. Como é que a AEVC recebeu esta notícia?
Manuel Cunha (MC): Para esta Associação Empresarial não foi uma notícia. Era a decisão certa e esperada neste momento, responsável e inevitável em cumprimento das recomendações e orientações da Autoridade Sanitária e do Governo. Em toda e qualquer situação, o foco da AEVC não se poderá dissociar, hoje como sempre, da saúde e bem-estar das pessoas, da rentabilidade das nossas empresas, da criação e estabilidade do emprego, da valorização do nosso território. Considerando as referidas recomendações e orientações, os municípios do Alto Minho decidiram não emitir licença para festas, romarias e eventos que decorram até final do mês de setembro, face aos graves riscos de saúde pública associados à propagação da pandemia da Covid-19 no Alto Minho. Obviamente que é uma situação adversa, mas o que, em primeiro lugar, está em jogo é a saúde das pessoas e entendo ser a atitude correta. Reinventar as Festas este ano para que no próximo retome com os seus moldes tradicionais e ainda com mais força e beleza. Pela maior Romaria de Portugal, em 2019, terão passado pela cidade mais de 1,2 milhões de pessoas, é inapropriada a comparação a eventos de menor dimensão e com lugares marcados que eventualmente sejam ainda autorizados. Era impossível a sua realização. Segundo a história, a devoção à Senhora d’Agonia ocorre a partir de 1751. Tal impõe que no dia 20 de agosto, dia a Ela dedicado, decorra a celebração litúrgica, de forma presencial, com o número de pessoas que, entretanto, forem definidas. As presenças serão sempre limitadas. Todos os restantes momentos da Romaria, que recebeu em 2013, a Declaração de Interesse para o Turismo, serão festejados em formato virtual passando vídeos, reportagens nas rádios e nas redes sociais. Vamos ser criativos, festejar e viver a Romaria.

AAL: Que impactos terá na economia local?
MC: Os impactos serão enormes, mas não é um caso isolado. Esta realidade é a nível regional e nacional e irá acarretar novos desafios. Claramente que o número de pessoas que, nesta época, costumam estar em Viana e no Alto Minho será inferior, o que apesar de expectável queremos combater. Há que reinventar, minimizar os impactos, procurar novos modelos, mas que mantenham a ligação à nossa cidade, à nossa região. Temos grandes vantagens competitivas e diferenciadoras: a localização e características do território; a qualidade ambiental e a extensão das nossas praias; a segurança; os serviços de saúde; a oferta hoteleira, restauração e comércio; os centros históricos e a qualidade do edificado; os espaços museológicos; os desportos náuticos; amplos espaços de fruição e lazer; os produtos endógenos. Foram canceladas todas as Festas e Romarias das nossas freguesias, em todo o Alto Minho. Momentos únicos de encontro de famílias e de amigos, ritual de tradições e vivências que, na maioria das vezes, só se repetem uma vez por ano. Para além de todas as Festas e Romarias, lembremos também, pelo seu impacto, local e regional, e porque dirigido a públicos diferentes, mas tão bem-vindos e importantes, o cancelamento dos grandes festivais de música (Neopop, Festival de Vilar de Mouros, Festival de Paredes de Coura, Festival Bate Forte, Metal Fest). Como as Festas terão um cariz essencialmente digital, estamos a acelerar o Projeto “Viana Market” para poder disponibilizar aos nossos empresários esta ferramenta que irá andar, de mãos dadas, com a digitalização da Romaria d’ Agonia.

AAL: Como é que os comerciantes receberam a notícia do cancelamento das Festas?
MC: Dada as normas de segurança e as regras e orientações do Governo Central e da DGS, como já disse, era obviamente expectável que um cancelamento deste porte gera preocupações e incertezas pela melhor época do ano na faturação da hotelaria, restauração e comércio. Infelizmente é uma realidade generalizada. Temos de conviver com ela por algum tempo e ter capacidade de adaptação. Esta situação foi extremamente rápida, com um brutal impacto na vida das pessoas e empresas. Ninguém possuía ou possui um guia de como ultrapassar esta fase e é, neste contexto, que sempre afirmamos o nosso regozijo pela atitude exemplar dos nossos empresários.

AAL: A AEVC continua a fazer parte institucionalmente da Comissão de Festas? Foi uma decisão difícil de tomar?
MC: Esta Associação Empresarial, então Associação Comercial ou Grémio do Comércio, desde a sua fundação em 1852, sempre esteve presente e envolvida, direta ou indiretamente, na organização das Festas D’Agonia. Já em 2002 foi criada a VianaFestas – Associação Promotora das Festas da Cidade. Como refere o seu histórico, “tem na sua origem a institucionalização das seculares Comissões de Festas da Senhora d’Agonia, sendo considerada necessária e essencial para a prossecução da organização destas famosas festividades, conhecidas pela “Romaria das Romarias de Portugal”, perante o envolvimento não só de volume financeiro, mas, essencialmente, no seu aspeto legal e fiscal.” As entidades fundadoras da Viana Festas foram a Câmara Municipal de Viana do Castelo; a Associação Empresarial de Viana do Castelo; a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal e a Associação dos Grupos Folclóricos do Alto Minho. Dada a dimensão e a complexidade da sua organização, com inexcedível envolvimento de todos/as que as integram, foram constituídas Comissões Executivas para as Festas D’Agonia, Feira Medieval e Festival Internacional de Folclore. A AEVC está representada em todos os Órgãos Sociais da VianaFestas e em todas as Comissões Executivas.

AAL: Em relação ao desconfinamento progressivo que está a acontecer. Como é que o comércio e empresas de Viana estão a responder?
MC: O comércio, tão sofrido nesta fase, tem dado a resposta à altura. Não é fácil e será um processo complexo, mas estão todos a cumprir as regras. A criar as condições de segurança para conferir a segurança necessária para a confiança dos seus clientes, familiares e amigos. Não tenho dúvidas que será uma nova realidade ou princípio de uma “nova normalidade”, que os clientes irão absorver e voltar ao seu antigo quotidiano neste novo formato. Estamos a lançar várias ações, em parceria com a Câmaras Municipais de Viana do Castelo, Caminha e V.N. de Cerveira, em diversos setores para apoiar e proporcionar resultados melhores e acima do esperado pelos nossos empresários.

AAL: Em relação àquelas medidas de apoio pedidas ao Ministério da Economia já tem alguma resposta?
MC: Desde 17 de março, dia em que enviamos a Carta Aberta, passando por comunicação de 28 de abril, pedindo auxílio para manutenção dos estabelecimentos de Comércio e Serviços, obrigados a encerrar a atividade devido às medidas de execução do Estado de Emergência, até nova comunicação de 02 de maio onde se reivindicou ao Senhor Ministro da Economia e da Transição Digital, novamente, em conjunto com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, apoio a fundo perdido para o Comércio e Serviços que a AEVC se posicionou em defesa dos interesses dos nossos empresários. Os resultados são obtidos pela força do Associativismo. A nível local, regional e nacional. A AEVC é Membro da CCP – Confederação e Comércio e Serviços de Portugal. Junto dela também fazemos chegar as nossas sugestões, preocupações e reivindicações.

AAL: Que medidas já foram contempladas?
MC: Já foram satisfeitas várias delas: o apoio a sócios gerentes com trabalhadores; o apoio a fundo perdido às empresas para adaptarem medidas de segurança – Programa Adaptar. Nesta difícil conjuntura, é um dever salvar as empresas e apoiar a manutenção dos postos de trabalho. Apoios a fundo perdido hoje concedidos serão traduzidos no futuro na manutenção de elevadas taxas de emprego, mais exportações, maior receita fiscal, prosperidade e bem-estar.

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