Moradores recusam abandonar e entregar chaves

São nove os resistentes que continuam a dormir no Prédio Coutinho. A VianaPolis já cortou o abastecimento de água no final da tarde desta segunda-feira, dia 24 (último dia dado para a desocupação das frações) e o gás na noite do dia seguinte. O corte da eletricidade é o próximo passo. Neste momento, estão apenas habitadas seis frações, segundo fonte oficial da VianaPolis.

“Recorreremos a todos os meios que estão dentro da lei para tomarmos posse de algo que é nosso”, dizia, ao final da tarde de 24 de junho, o presidente da Câmara de Viana do Castelo. José Maria Costa acusou ainda os moradores, que não entregaram a chave de “ocupação ilegal”. “As pessoas, neste momento, estão a desobedecer a uma decisão do tribunal, que é a de terem de abandonar as frações, porque são propriedade da VianaPolis.

O que estamos a fazer é a tomar posse efetiva das frações, porque a ocupação por parte das pessoas, neste momento, configura uma ocupação ilegal”, referiu aquele responsável. Adiantando que a VianaPolis já “tomou hoje posse administrativa de 23 frações, com a entrega voluntária das chaves” faltando apenas seis, das 33, que, a 30 de maio, foram notificados para abandonar as casas.

Na tarde de terça-feira e depois de ter pedido autorização à VianaPolis para entrar no prédio, o advogado dos moradores explicava aos jornalistas que “a ação [entreposta na semana passada] para a intimação em defesa dos direitos, liberdades e garantias dos moradores foi admitida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Braga. Não tem efeito suspensivo, mas ordena a VianaPolis, que já foi incitada, para, em cinco dias, oferecer contestação”. Magalhães Sant`Ana anunciava ainda a entrada na segunda-feira, dia 24 de junho, de uma nova providência cautelar para travar o processo de despejo. Contudo, ainda não havia qualquer decisão do TAF de Braga.

O advogado defendia que “o bom senso diria que perante o conhecimento da admissão daquela ação, a VianaPolis teria obrigação de fazer um compasso de espera até isto estar resolvido”.

FECHADURAS SUBSTITUÍDAS
As fechaduras das portas das entradas do prédio foram substituídas e para além de agentes da PSP, foi contratada uma empresa de segurança que fazia vigília à porta do prédio, durante o dia e a noite. Os moradores para entrar tinham de pedir autorização à VianaPolis. Os familiares não tinham autorização para entrar. Apenas poderiam ir até à entrada do prédio e entregar alguns bens.

Alcino Lemos já tinha chegado a acordo com a VianaPolis há uns anos, depois de ter sofrido um enfarte e estado hospitalizado durante dias. Por recomendação médica, decidiu desistir de permanecer no Edifício Jardim, conhecido localmente por prédio Coutinho, mas ainda não tinha entregado a chave. “Estou aqui hoje [dia 24 de junho, às 9h30, para dizer à VianaPolis que ainda não arranjei uma grua para tirar a mobília estilo império, que demorou várias horas a subir os vários andares do prédio]”. Um dos rostos mais conhecidos da contestação frisava que “estou aqui em solidariedade com os meus antigos vizinhos”.

Fernanda Rocha, de 74 anos, mora no edifício há quase 20 anos e dizia que “eu não vou entregar a chave. Eles não falam de dinheiro e não têm direito a fazer uma coisa destas”.

“A ESTÉTICA JAMAIS PODERÁ SER COLOCADA ACIMA DAS PESSOAS”
Também Ronald Silley e a mulher saíram de malas na manhã de segunda-feira; no entanto não abandonavam a fração, mas apenas “iam de viagem”. O proprietário manifestava que “forçar pessoas, a maioria delas idosas e com problemas de saúde, a abandonarem as suas habitações, por causa da estética do prédio onde vivem, é cruel e impróprio dum país decente”. Acrescentando que “a estética jamais poderá ser colocada antes e acima das pessoas”.

Agostinho Correia, 86 anos, saia na manhã de segunda-feira. Disse que ía trabalhar e não poupava críticas à VianaPolis. “É horrível, querem-me tirar a casa que eu paguei. Ainda por cima com a minha mulher tão doente no hospital”, dizia. O filho Joaquim Correia tentava na terça-feira entrar no prédio para levar alguma comida para o pai e para o irmão, que ficou a acompanhar o patriarca. “Eu ontem [segunda-feira] dormi no prédio, mas hoje já não me deixam entrar. Agora [terça-feira, às 19h] vou ao restaurante comprar comida e entregar aos polícias ou seguranças para que chegue ao meu pai e irmão, que permanecem” no quinto andar do edifício de 13.

CORDAS E LENÇÓIS UTILIZADOS PARA PUXAR COMIDA
Na hora do almoço, alguns populares entregaram comida ao filho de Agostinho Correia através de uma cataplana atada a uma corda, que foi içada do apartamento, que permanece, desde segunda-feira, com uma bandeira (“não oficial”) da Venezuela pendurada à janela.

Ao final da tarde, Manuela da Cunha enviava algumas roupas e revista para os pais (Fernanda Rocha e marido), que permaneciam no segundo andar do prédio, com a ajuda de lençóis, unidos pelos septuagenários.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.