“O isolamento em que muitas [pessoas cegas ou com baixa visão] já viviam acentuou-se”

Isabel Barciela está à frente da Associação, que pretende a inclusão de pessoas cegas e com baixa visão.

Com uma equipa multidisciplinar, a Íris Inclusiva tem como missão apresentar uma resposta “diferenciadora” para os vianenses e altominhotos que sofrem daquelas patologias.

A associação teve de reinventar as suas formas de intervenção e desenvolve muitas atividades à distância. “Tivemos que cancelar todos os eventos de caráter comunitário e abertos ao público em geral que sempre marcaram a nossa atividade associativa”, lamenta a responsável.

Há quanto tempo existe a Íris Inclusiva em Viana do Castelo?
A Íris Inclusiva é uma associação sem fins lucrativos, com estatuto de IPSS, que foi constituída em julho de 2009, em Viana do Castelo.

Qual é a principal finalidade da Instituição?
A nossa missão é promover a inclusão social das pessoas cegas e com baixa visão, através do desenvolvimento de um conjunto de atividades, projetos e serviços centrados no desenvolvimento da autonomia e na participação plena nos diversos domínios de vida.

Só apoiam pessoas com deficiência visual no concelho de Viana? Quantos existem?
A Íris Inclusiva tem em funcionamento uma resposta social de apoio em regime ambulatório que intervém em todo o distrito de Viana do Castelo. O nosso acordo de cooperação com a Segurança Social abrange 38 pessoas, as suas famílias e outros profissionais da comunidade. A nossa equipa multidisciplinar desenvolve a sua intervenção nos contextos naturais de vida das pessoas e em estreita articulação com os recursos da comunidade, procurando responder às suas necessidades numa perspetiva de efetiva proximidade.

Quais as principais necessidades e dificuldades?
No nosso trabalho diário, encontramos várias dificuldades/necessidades, das quais destaco as seguintes: Falta de visibilidade pública desta área de intervenção e desconhecimento das caraterísticas e dificuldades vividas por estes cidadãos. Investimento e apoio ao setor insuficientes. Condição periférica do nosso distrito, em particular as zonas mais rurais, o que agrava as desigualdades sociais e a falta de acesso a um conjunto variado de oportunidades. Necessidade de trabalhar em rede com um leque muito alargado de intervenientes no terreno, de diferentes setores e com modelos de funcionamento que nem sempre é fácil compatibilizar. Défice muito acentuado de inserção socioprofissional das pessoas com deficiência visual. As nossas principais necessidades estão relacionadas com a sustentabilidade financeira da Instituição, sobretudo porque a nossa resposta é altamente diferenciada e a sua implementação acarreta um desgaste significativo de recursos humanos e materiais. Fazemos muitos milhares de quilómetros por ano, pelo que a manutenção de uma pequena frota automóvel é também uma das nossas preocupações.

Vivemos num tempo de pandemia. Esta situação agudizou a situação das pessoas cegas e com baixa visão?
Sem dúvida que sim. Estas pessoas interpretam o mundo que as rodeia através de outros sentidos que não a visão, nomeadamente o tato. É fácil imaginar que as restrições ao toque e a imposição de distanciamento físico são ainda mais penalizadoras do que para as outras pessoas. O isolamento em que muitas já viviam acentuou-se e a crescente necessidade de recurso às tecnologias de informação e comunicação tornou mais prementes as questões da iliteracia e da acessibilidade digitais. A necessidade de acesso aos diversos serviços, e também à informação, traz grandes desafios a este público. Estamos muito longe de um cenário de igualdade de condições com os outros cidadãos.

Habitualmente faziam algumas iniciativas. O que tiveram de cancelar?
Tivemos que cancelar todos os eventos de caráter comunitário e abertos ao público em geral que sempre marcaram a nossa atividade associativa. Também a participação em eventos da comunidade, que por vezes estava associada à angariação de alguns fundos para a Associação, está suspensa desde o início da pandemia.

Tem alguma atividade programada para os próximos tempos?
Temos vindo a dar passos no sentido de aproveitar as potencialidades das ferramentas de comunicação à distância e dos meios telemáticos. Promovemos recentemente o nosso primeiro Webinar aberto ao público em geral e pretendemos dar continuidade a esta experiência. Também terminamos esta semana um ciclo de sessões de meditação dirigidas aos nossos clientes e familiares, com recurso à plataforma ZOOM, cujo resultado incentiva futuras atividades neste formato.

Quais os projetos para os próximos anos?
Nos próximos anos, a Íris Inclusiva pretende afirmar-se, sobretudo, pelo caráter diferenciado do seu projeto e dos seus serviços, continuando a apostar na sua qualificação. Acreditamos que o modelo de intervenção de base comunitária que temos vindo a ensaiar tem potencial de replicabilidade noutros territórios e trabalharemos na sua disseminação. Paralelamente, e assim permita a pandemia, queremos dar continuidade ao projeto de internacionalização que iniciámos e investir cada vez mais no trabalho em rede aos diversos níveis: local, nacional e internacional.

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