“Reclusos elaboram casotas para animais abandonados”

Cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Viana do Castelo estão envolvidos num projeto de voluntariado para a construção de casotas para cães e gatos abandonados. Iniciado em plena pandemia de Covid-19, o projeto é desenvolvido em parceria com a Alar e a Gatos de Ninguém.

A proposta partiu da antiga Chefe do Estabelecimento e foi acolhida pela direção do espaço. A diretora explica que “este projeto surgiu de uma proposta da Chefe Vidigal, que nos apresentou esta proposta. Achamo-la muito interessante. A partir daí contactamos uma Associação, a Alar, e iniciámos todo o processo de construção das casotas”. Sónia Carvalho manifesta ainda que “tivemos muita adesão por parte da população reclusa”, garantindo que o trabalho “é voluntário”.

As associações de proteção animal e a sociedade civil trazem a matéria-prima e cedem os materiais necessários, como paletes, pregos, tintas e colas, e os reclusos elaboram.

Bruno Peixoto está preso há um ano e aceitou participar voluntariamente no projeto. “Acho um projeto bom. Dá-nos outras oportunidades”. Satisfeito com os elogios revela que “mantemo-nos ocupados e a mim ajudou-me a diminuir a medicação que tomava”. Para este, ao ajudar os animais abandonados permite “mostrar o meu lado bom”.

“É um ganho, em termos de competências, que eles adquirem. E é um trabalho meritório, porque estamos a ajudar os animais, quer os cães, quer os gatos de rua”, salienta Sónia Carvalho. Acrescentando ainda que “a dinâmica da rotina de um Estabelecimento Prisional com ocupação laboral torna-se mais suave, porque efetivamente não há tanta conflitualidade. Os reclusos estão ocupados. Eles acham que estão a fazer um trabalho muito meritório. Há um conjunto de interesses, de parte a parte”.

Tânia Alves, da Associação Gatos de Ninguém, garante que a parceria é “muito positiva” e permite disponibilizar os felinos apoiados um espaço onde possam comer e até descansar “abrigados das condições meteorológicas”.

Nas várias colónias apoiadas pela Associação, localizadas em terrenos privados, e no terreno da Associação, em Santa Marta de Portuzelo, é possível vislumbrar as cerca de 10 estruturas já desenvolvidas. A responsável da Associação lança um apelo aos vianenses. “O que tem feito falta é material, seja paletes, pregos, colas, lixas e tintas, mas também outras máquinas para fazer estes trabalhos”, revela. Acrescentando que as empresas ou cidadãos individuais podem doar estes objetos quer à Associação quer aos responsáveis do Estabelecimento Prisional.

“O trabalho é essencial para a reinserção social”

A diretora do Estabelecimento Prisional defende que a reinserção social também é feita através do trabalho. Sónia Carvalho garante que “o indivíduo adquire competências e sente-se útil na sociedade e começa a vislumbrar a liberdade com outra apetência. O trabalho é essencial para esse processo de reinserção”.

No Estabelecimento Prisional de Viana do Castelo funcionam outras atividades, nomeadamente aulas e formações profissionais. “A formação profissional é extremamente válida, até porque os reclusos normalmente aderem muito, atendendo a que é remunerada. Nós normalmente temos cursos de pintura e de pedreiro. São cursos promovidos pelo Centro Protocolar da Justiça, e com os quais aproveitamos para fazer benfeitorias no Estabelecimento Prisional. Eles estão a apreender, mas também aproveitamos para fazer melhoramentos no nosso espaço”, revela.

Sónia Carvalho dá conta ainda de uma outra Brigada, a do Gesso, feita em colaboração com a artista vianense Iva Viana. Neste caso, estão envolvidos cinco/seis reclusos, sendo uma parceria remunerada. “A arte é o que nos salva, por isso também os salva a eles. Aliar a arte ao trabalho é o ideal, por isso a Brigada da Iva é muito acarinhada e está a ter muito êxito”, salienta.

O objetivo da direção do espaço é aumentar o número de reclusos envolvidos em projetos com a sociedade civil. “O ideal seria ter todos os reclusos com ocupação”, sublinha Sónia Carvalho.

Surgidas em novembro de 2020, as duas brigadas amenizaram os efeitos provocados pela Covid-19. “Estávamos com o receio por causa do vírus, mas por outro lado queríamos ocupar os reclusos que deixaram de ter um sem número de atividades e que foram suspensas por causa da pandemia, nomeadamente as aulas, as formações, as atividades dos voluntários, a assistência religiosa e as visitas de familiares”, conclui Sónia Carvalho.
A diretora do Estabelecimento Prisional não tem dúvidas de que a arte também ajuda os reclusos.

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