“Senhora d’Agonia tem protegido a Ribeira”

A Procissão ao Mar e ao Rio é um dos números mais recentes das festas da cidade, já que se realiza, sempre a 20 de agosto, apenas desde 1968. Embora date de 1744 a primeira referência escrita ao culto à padroeira dos pescadores.

Na tarde do dia 20, nas margens, milhares de pessoas concentram-se para ver e saudar a procissão ao mar e ao rio, envolvendo mais de uma centena de embarcações de pesca e de recreio. No regresso a terra, os pescadores transportam os andores de novo à igreja de Nossa Senhora da Agonia, agora pelas ruas da Ribeira onde na noite anterior foram confecionados os típicos tapetes de sal.

Para a classe piscatória da Ribeira, a procissão ao mar é o momento alto. Então, levar o andor com a imagem da Senhora da Agonia tem um significado muito especial. Este ano, a missão calhou a Carlos Gonçalves, mestre do “Santa Luzia no Monte, uma embarcação recente, construída em 2004 nuns estaleiros no Cabedelo, com 14, 5 metros de comprimento para 4, 40 m de largura, na qual trabalham oito pessoas que se dedicam à pesca de polvo, carapau, pescada, peixe galo e robalo.

Foi em plena Ribeira, onde nasceu (“na Rua dos Poveiros, 49”) e ainda vivem os pais, que encontramos Carlos Gonçalves, 51 anos de idade, pescador desde os 16 anos, a residir na Meadela, mas que está “sempre” nesta zona típica da cidade.

A Aurora do Lima (AAL): Como é levar o andor para a Senhora d’Agonia?
Carlos Gonçalves (CG): Não é escolha. Tens de levar antes, pelo menos, os três outros andores da procissão ao mar e ao rio – com a imagem da Senhora de Monserrate, S. Pedro e Senhora dos Mares – para depois levar o de Nossa Senhora da Agonia.

AAL: Mas são vocês que se disponibilizam para os levar?
CG: A mim vieram-me pedir (por parte da Confraria) para levar o S. Pedro…. que não havia ninguém.. levei-o e, depois, o resto dos andores.

AAL: E qual a expectativa?
CG: Já não é a primeira vez. No tempo do meu pai – Joaquim Gonçalves Broto – que também era pescador e dono de um barco com o mesmo nome do que agora tenho – “Santa Luzia no Monte” – também aconteceu. É uma tradição que já vem até do meu avô.

AAL: Que significado tem levar o andor da Senhora da Agonia?
CG: Acho que é uma honra e um prazer. As pessoas que pegam no andor em terra também têm prazer em levar o andor por terra.

AAL: Mas, além do prazer, vocês têm uma devoção especial pela Senhora d’Agonia como protetora da vossa classe. Sentem que ela vos tem protegido?
CG: Acho que sim, que tem protegido os da nossa Ribeira.

AAL: O que está a preparar para engalanar o barco nessa ocasião especial?
CG: Vou comprar as flores, as coisas para as segurar, andar a tratar disso, as esponjas, tudo que é para enfeitar o barco. Tem de estar bem engalanado.

AAL: E quantas pessoas estão envolvidas?
CG: Nas vezes anteriores contratamos uma florista. Mas agora está a ser a minha mulher e as primas dela. Uma delas já chegou a ser florista. Cinco mulheres no total.

AAL: Só mulheres!… já é costume?
CG: As flores são as mulheres, não são os homens. É mais para a mulher. Mas nós ajudamos, onde se vai colocar as esponjas, na fixação para colocarem as flores à volta do barco.

AAL: Como é que um pescador vive as Festas d’Agonia? O que esta tem em relação às outras festas?
CG: Quem leva os andores, às vezes não vê bem as Festas. Tem de andar a tratar das coisas, a enfeitar o barco, isso tudo. Ora quem está livre, é bom… as Festas. A passear, a comer, a beber…

AAL: Mas você não está todos os anos à volta do andor?
CG: Não. Agora vou ter de dar lugar a outro… para o próximo ano.

AAL: E quais são os números que mais aprecia na Romaria d’Agonia?
CG: De 19 a 20 é o nosso dia. Fazemos o jantar de amigos, pescadores ou não, daqui da Ribeira, da nossa infância e depois andamos a noite toda.Antigamente era num restaurante, agora é nos nossos armazéns. Arranjamos um cozinheiro e nós trazemos o peixe. E está feito. Depois andamos aqui a noite toda pelas ruas. Mas, no meu caso, não posso andar muito que tenho o compromisso… tenho de estar fino. É uma responsabilidade. Também a temos todos os dias; são nove chefes de família ao nosso encargo. Temos gente em terra e no mar a trabalhar. Fazer pela vida para garantir sustento às famílias.

AAL: Levar o andor é uma responsabilidade acrescida. Mas também gosta de folgar?
CG: Sim. Também é importante na vida.

AAL: A questão do parque eólico e as preocupações dos pescadores que…
CG: Não quero falar sobre isso. Há confusão que chegue.. aqui na nossa Ribeira.

AAL: E a greve dos motoristas de transporte de combustíveis… afeta-vos?
CG: Não. Abastecemos. Na minha embarcação meto quase cinco mil litros de gasóleo. Dá para um mês.

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