“Todos os dias havia caça ao tesouro”

António Carlos Costa, o marido, infelizmente desaparecido, deu pistas e apontou caminhos (por isso surge como coautor), mas foi a Helena quem mais meteu mãos à obra para, em trabalho denodado, fazer um retrato fiel de um dos cidadãos mais queridos de Viana. O tempo, para tão espinhosa tarefa, pode ter sido curto, mas o resultado aí está para, de forma abrangente, mostrar quem foi Amadeu Costa, agora que atingiu o centenário do seu nascimento.

Mesmo conhecendo bem esta personalidade distinta, dado a relação familiar de ambos, durante meses, ininterruptamente, envolveu-se na consulta de milhares de documentos para chegar ao âmago da vida do etnógrafo, investigador e dinamizador cultural que Viana nunca esquecerá, mas o resultado dificilmente poderia ter sido melhor. Trabalho de paciência, mas também de muito profissionalismo para produzir um texto longo, mas curto, dada a dimensão do biografado, que se lê avidamente, pela transparência, leveza, sequência e escrita apurada. Uma obra que também faz uma radiografia alargada à vida cultural e social da cidade, na qual tanto se deixou envolver este vianense singular.

Mas, para falar deste desafio de resultado qualificado, nada melhor que conversar com a autora, que aceitou dar a conhecer os meandros desta tarefa que a apaixonou. Naturalmente, a sua condição de ex-Conservadora do Registo Civil, que tanta experiência lhe deve ter dado no contacto com muitas e variadas vidas, deve ter pesado no êxito conseguido.

Helena, trabalhar numa obra de tão grande exigência, dado a vida tão preenchida e multifacetada de Amadeu Costa foi trabalhoso, mas de igual modo cativante, não é verdade?
Foi fascinante, por ter sido uma descoberta permanente, quase diária. Descoberta para mim e estou convencida de que, nalguns aspetos, para muita gente, mesmo para quem conviveu de perto com Amadeu Costa. Um pormenor ou outro nem o biografado nem o António chegaram a saber, e que pena eu tenho de já não lhes poder contar! Também há o reverso da medalha, aquilo que os dois me teriam contado se cá estivessem. Mas teve de ser assim!

Olha-se para o livro e depara-se com tanta informação escrita e imagética que temos de perguntar como foi possível em tempo tão curto – alguns meses – tanto observar, ler boa parte e abrir portas para conseguir material complementar, para então tirar conclusões definitivas; organização e muito trabalho, não é verdade?
Empenhei-me e aproveitei a disponibilidade. Muita informação tinha-a em casa, embora desorganizada. Por isso, todos os dias havia “caça ao tesouro”. Amadeu Costa não deitava nada fora e como não usou computador guardava muito papel, tomava apontamentos e anotava os seus interesses. Às vezes metia em pastas, muitas vezes não havia tempo e amontoava. Também consultei A Aurora do Lima e outros jornais e Arquivos, ao sabor da pandemia. E conversei com amigos de Amadeu Costa, o que me trouxe um ganho feliz de novas amizades.

Para uma produção tão exigente, partiu-se de um guião preconcebido, ou tudo se foi construindo na base da investigação e do estudo?
A vida de Amadeu Costa oferece capítulos muito bem definidos. Tratou-se de os desenvolver e houve um momento em que os tinha desligados, como num livro de contos. Nessa altura foi necessário estabelecer uma sequência, embora várias atividades tenham sido desenvolvidas em paralelo, como é o caso da permanente ligação ao Teatro Sá de Miranda.

Já sabemos que num livro, quando concluído, fica sempre a sensação de que podia ter sido melhor. Mas a opinião pública, especialmente quem conheceu Amadeu, diz que o retrato está perfeito. Achas que o conteúdo poderia ser mais exaustivo ou que o essencial está abordado?
Admito que o essencial esteja abordado, tanto na visão de conjunto como nalguns pormenores que andavam menos explicados em anteriores textos publicados sobre Amadeu Costa. Com certeza poderia ser mais exaustivo, mas o livro teria de ser desdobrado. Há tanta gente com histórias para contar da sua convivência com Amadeu Costa, que uma recolha atual de depoimentos orais já dava outro livro.

E agora? Sabemos que tens mais um livro para terminar, também iniciado com o António, referente às biografias dos diretores que passaram pela antiga Escola Industrial, hoje Escola Secundária de Monserrate, que deverá também ser uma obra muito curiosa, que, em parte, também ajudará a definir o percurso deste estabelecimento de ensino; está para breve ou ainda há muito para indagar?
Esse é um compromisso que tenho de honrar, mas tem de ser repensado. Há, na verdade, uma apreciável recolha de informação, fruto de muitas horas de trabalho nosso, do António e meu, que não pode desperdiçar-se. Mas com a doença do António, com a sua falta e com isto da biografia de Amadeu Costa, o trabalho sobre os diretores parou nos últimos quatro anos. Não me parece que esteja para breve, porque a Escola tem 133 anos, os diretores são muitos, uma pessoa sozinha não dá conta de tudo e a total disponibilidade não dura sempre. Embora goste, não me transformei em investigadora/escritora de vidas passadas. Também quero dedicar-me a viver o presente.

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