Relembrando o passado

Uma achega histórica ao porto de mar
e marinheiros vianenses doutros tempos

Nos primórdios do séc. XV a vila de Viana tinha já mais de 950 fogos e perto de 4.000 habitantes, maioritariamente pescadores e marinheiros, alguns fidalgos proprietários de navios mercantes. Cuidavam dos trabalhos de pesca da costa, da navegação e de acossar os piratas. O Rei D. Afonso V autorizou-os a ficar com o espólio capturado às naus daqueles o que contribuiu para o seu enriquecimento. Foram construídos mais navios e ricas moradias. Hoje, não, mas na altura entraram no nosso porto navios de bom calado para a época e o comércio marítimo fazia-se com as principais cidades europeias.
No reinado de D. João II ficou célebre Fernão Martins da Costa que se dirigiu a África ao comando de uma esquadra, tendo colaborado na descoberta do Congo João Velho.
No tempo do Rei Venturoso começou a expansão para fora das muralhas e esse alargamento fez-se no sentido do Mar, do Rio e do Monte de forma progressiva , que deu origem a diversos bairros mais tarde.
D. Manuel concedeu foral em 1512 e outro em 1516, permitindo maior representação nas Cortes e dado mais prerrogativas, aproveitando logo, a nobreza, no comércio.
D. Sebastião reforçou a defesa do Castelo de Santiago da Barra contra os corsários com soldados e munições.
Na renovação marítima salientaram-se João Alvares Fagundes e Pedro de Campos Tourinho , sem descurar João Corte Real na descoberta da Terra Nova, com Fagundes. Este voltou ali em 1520 com uma nau e caravela que lhe pertenciam para nela fundar uma colónia de vianenses, mais tarde abandonada e ocupada pelos ingleses.
Em Porto Seguro, fundou Tourinho, no tempo de D. João III, uma capitania e onde se notabilizou também Caramuru, na aceitação dos indígenas da presença dos portugueses, casando com Paraguaçu, tendo deixado no Brasil larga descendência.
A Vila com fama e proveito de rica, foi ambicionada por corsários franceses em 1574 que procuraram saqueá-la, mas foi heroicamente defendida pelo povo e pela guarnição do Castelo o que fez jus ao título de Notável atribuído por D. Sebastião a Viana da Foz do Lima, por carta datada de 28 de Março de 1563. Diga-se de passagem, que os piratas estavam bem armados e possuíam 8 navios.
Os descobrimentos foram os responsáveis pela concentração da actividade do país no litoral e deslocaram o comércio e a navegação do norte da europa para as terras longínquas da África, Ásia e Américas, especialmente do Sul. A tradicional pesca vianense foi trocada pelo comércio do bacalhau da Terra Nova que tanta fama deu a Viana com a sua seca e exportação. Os marinheiros vianenses colaboraram no Caminho marítimo para a índia, para o Brasil, Ilhas Atlânticas e nessas e noutras viagens obtiveram peças artísticas que valorizaram os nossos museus e casas particulares.
António Ribeiro Cirne distinguiu-se, como outros, nas expedições ao Oriente e morreu martirizado na Ilha de Java. Nem os nefastos Filipes apagaram de todo a nossa grandeza. O Brasil deu-nos ouro e prestígio, pois em 1624 as nossas caravelas defenderam a Bahia dos Ingleses e ainda no Brasil Braz Soares de Abreu, em 1639, combateu os holandeses. Em 1623, em alguns dos principais Portos da Europa fazia-se imenso tráfico de exportação.
Até quase aos nossos dias teve o privilégio de ser um dos mais venturosos centros bacalhoeiros.

Referência
Crespo, Dr. José – Monografia de Viana do Castelo, 1957

Legenda da imagem: Viana Marinheira (Alegoria) – Reconstituição de uma caravela do século XVI (do catálogo da exposição “Últimos veleiros do Porto de Viana” miniaturas de João Gonçalves Pinto, realizada no Museu Municipal de Viana do Castelo em 1993) – Imagem: “Pelos Confins do Mundo”

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