A Arte

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É muito difícil saber o que é a Arte. Duvido de quem diz que sabe o que é a Arte. A Arte não tem definição que nos satisfaça, e penso que nunca se saberá, verdadeiramente, o que é a Arte. Por isso, prefiro chamar-lhe sentimento artístico. Mas, mais do que teorizar, o que interessa é a prática da sensibilidade, não só do criador, mas do contemplador e da sociedade em geral, bem como a liberdade da constante destruição-criação das raízes do pensamento. Sem sensibilidade e sem curiosidade universal não me parece possível a formação de uma personalidade artística, capaz de entender a Arte como o caminho mais natural para viver a verdade. 

Todavia, o sentimento artístico, seja ele o que for e tome a obra de arte a expressão que tomar, parece-me a forma mais nobre e sublime da comunicação e da relação do homem consigo mesmo e com o mundo. Será, provavelmente, a única que permite ao homem assentar os pés no caminho da universalidade.

Todo o homem se relaciona mais ou menos activamente com os inúmeros fenómenos que o rodeiam e com tudo o que vê e ouve, com tudo o que entende e não entende. O diálogo do Homem consigo mesmo e do Homem com o mundo no seio da natureza e da Humanidade é permanente, profundo e inevitável, e constitui a fonte universal e inesgotável de todas as ideias. O Homem tem caminhado ao longo do tempo em profunda relação dialéctica com o meio, confrontando-se com as difíceis questões da sobrevivência, do pensamento, da razão e da difícil descoberta de si próprio. Nesta descoberta do entendimento de si próprio reside, a meu ver, a força que o impele para o infinito e para a sua dimensão universal, dito de outra forma, a força que o projecta nos horizontes da expressão artística. Mas a arte nunca atinge a perfeição, por isso ela será sempre inquietude e procura constante. Não se compadece nem com a abreviatura do silêncio nem com a amplidão do grito, pois emerge de uma luta permanente entre sonho e pesadelo, o sonho de ser um pássaro voando na proporção do infinito, e o pesadelo de ser um Homem arrastando as asas.

No meu entendimento, o sentimento artístico, fruto da obediência ao facto de existirmos, é a proclamação da inocência contra as culpas do mundo, a mais segura tábua de salvação nos naufrágios da fraqueza humana e o melhor antídoto contra as sistemáticas tentativas de cretinização da sociedade. Age sobre a sensibilidade, a imaginação e a inteligência, enriquece o sentido da humanização, ajuda o processo de reflexão, ilumina as emoções e os sentimentos, cria uma poderosa afinidade com a consciência, gera a necessidade de identificação com a verdade e a liberdade, desenvolve o sentido da estética, da beleza, da harmonia e da justiça, e abre a mente do ser humano ao valor da dignidade e à compreensão dos indeléveis mistérios das relações do homem com a natureza, impedindo-o de mastigar crendices, atavismos e superstições absurdas que o escravizam.

N.R: O autor não acompanha o novo acordo ortográfico

Adão Cruz 

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