Contava meu pai que a sua avó – que não cheguei a conhecer – dizia a cada passo: “Isso estou eu farta de saber! Já vem na Cartilha do Padre Inácio! …”
A “Cartilha” era basilar na educação primária, já que, além da Doutrina Cristã e orações, era livro de leitura. Ensinava as primeiras letras, a tabuada, as vogais, etc.…etc.
Em 1813, ainda se usava ou, pelo menos, imprimia-se em Lisboa. Todavia, a famosa “Cartilha” ou “Doutrina Cristã” não foi escrita pelo Padre Inácio – como muitos supõem –, mas sim pelo jesuíta Marcos Jorge, Doutor em Teologia.
Mestre Inácio Martins apenas atualizou a “Cartilha” ou “Catecismo”.
O aditamento e o prestígio do Padre Inácio Martins foram tão importantes que o nome do verdadeiro autor foi praticamente omitido.
Em meados do século XX, ainda se podia ouvir referências à célebre “Cartilha”. Amiudadamente, era citada em conversas ligeiras: “Isso é mais velho que a “Cartilha” de Padre Inácio! … querendo dizer: é velho e revelho.
Na notável “Prática em dia do Arcanjo S. Miguel”, padre Manuel Bernardes refere-se à “Cartilha” lamentando a degradação dos costumes e, censurando, “no tempo do padre mestre Inácio Martins não se ouviam palavras torpes e licenciosas”, como se escutavam na rua, na época em que o Padre Manuel Bernardes pregava (*).
Desconheço a data exata da primeira edição da “Cartilha”. Contudo, posso adiantar que remonta ao século XVI.
(*) Manuel Bernardes nasceu em Lisboa no ano de 1644; e faleceu em 1710. A primeira edição dos sermões aconteceu no ano da sua morte.