Não estávamos bem, mas lá íamos caminhando. Com visibilidade em algumas áreas de ponta e êxitos a destacar-se na investigação e na ciência em geral; com algumas empresas a adquirir notoriedade no exterior; recuperando alguns dos direitos eliminados por imposição da Troika; com as contas de exercício controladas a “ferro e fogo”; com alguns setores da economia a progredir, com distinção para o turismo, que tem um peso de 14% no PIB, segundo os especialistas; lá fomos caminhando e melhorando a nossa autoestima.
Deste Covid-19 é que não estávamos à espera. Tudo se inverteu e, até ver, até deixou de se falar em crise económica – que sempre esteve em cima de nós –, porque importante é salvar vidas, evitando hecatombes como as verificadas em países vizinhos. Da forma como estamos a gerir satisfatoriamente esta crise sanitária já se falou o suficiente, apesar de ainda longe do fim do pesadelo e de não podermos saltar a cerca que na prática, individualmente, criamos. Mas os efeitos desta paralisia do país são já visíveis. Poucos são os setores que iludem consequências de maior ou menor efeito. E um dos que se apresenta de forma mais sombria é o da cultura.
Dirão alguns que erudição não mata a fome e que, importante, é que não falte a refeição na mesa de cada um, porque sem esta ninguém passa. Mas o conhecimento em geral também faz parte das nossas vidas. Cícero, filósofo romano (106/43 a.C), falava dele como sendo o “cultivo do espírito”, isto é, tal como um verdejante campo de onde só se faz uma boa colheita a partir de uma melhor sementeira, a alma do Ser Humano só se engrandece na base da sabedoria. Se antes de Cristo a cultura já era parte essencial na vida das pessoas, temos hoje maiores razões para nos preocuparmos com a falta dela.
Agora não podemos usufrui-la, porque o confinamento a isso nos obriga, mas quando podermos ir ao teatro, ao cinema, a espetáculos musicais ou outros, visitar livrarias e exposições, assistir e participar em colóquios e eventos similares é preciso que tudo isso funcione, até porque tudo isto também agita a vida económica.
Segundo dados de um Eurobarómetro de 2017, 2,6% da população ativa está empregada em atividades de ordem cultural, apesar de apenas 17% da nossa população se relacionar de bem com a cultura. Ora este é um volume de emprego nada despiciendo, que deve ser preservado, sob pena de regredirmos no saber. Um povo inculto será sempre um povo mais pobre e menos “armado” para se defender.
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