A emigração nos anos sessenta

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O fenómeno deste surto emigratório acontece nos fins dos anos 50, início de 60, seguramente causado por uma recessão que grassava o país, mas também motivada pelo início da guerra no ultramar, obrigando os jovens mancebos a cumprir dois anos de serviço militar na metrópole e outros dois nas províncias ultramarinas. Além disso, a desertificação do meio rural também acompanha este fluxo que, por razões económicas, tenta por vários meios, clandestinos ou legais, sair do país em busca de melhores meios de sobrevivência e escapando ao serviço militar.

O concelho de Viana do Castelo não fugia à regra e era, naturalmente, nas freguesias desta região que acontece uma das maiores desertificações da época.

Também já se emigrou deste país por todos os motivos possíveis – a busca de melhores condições de vida; o de abandono do meio rural em direção ao meio populacional; o desemprego, a vontade da aventura; a resultante das condições e contradições a vários níveis – são conjunturas que levaram muita gente, homens e mulheres, a procurar melhores condições de vida noutros países, sobretudo há cerca de cinco dezenas de anos.

O emigrante vivia um conflito constante, hoje nem tanto. A técnica fazia dele uma máquina. A organização social do país onde vivia escapava à sua consciência e a qualquer gesto de oposição. O desenvolvimento cultural desse país apenas lhe tocava pela rama, através das imagens da televisão, dos jornais (muito poucos), dos reclames nas montras, do que escutava aqui e ali, principalmente nas aldeias, etc. Era escravo da sua incultura criada, devido à ausência obrigatória da escolaridade na sua infância.

Era escravo da técnica que o desumanizava, mecanizando-o e estruturando-o. Estava sujeito a um sistema social que lhe era estranho. Enfim, a toda uma série de críticas das quais não era responsável. Isto acontecia com todos aqueles que saindo de uma cultura e sociedade, com normas e comportamentos determinados, chegavam a uma outra com características diferentes e sentiam-se desenraízados.

Em tempos, era visto com algum ar desprezível por parte dos que não conseguiram ter a sorte de poder dar esse “salto” em busca de um alento melhor, tentando prosperar a sua vida socioeconómica e a dos seus acostumados. As famílias eram, sobretudo nas décadas de 60/70, bem mais numerosas e grande parte dos jovens arriscava, na época, a saída deste país pelas razões que acima se evocam.

No entanto, e acima de tudo, tinham sempre presente a imagem da família, da casa que deixaram, dos amigos, da terra natal e a ânsia de regressar à terra em férias e, apesar disto, de um regresso definitivo à Pátria. Estas eram preocupações constantes do dia-a-dia de cada emigrante, salvo raras exceções.

Nunca foi fácil emigrar para qualquer português, a não ser que no país de predestinação tivesse alguém com possibilidades de lhes facilitar o apoio necessário. A começar pelas dificuldades impostas à origem a nível de documentos. Depois, no país de destino, havia sempre o problema da língua, (quando era o caso), do alojamento, e acima de tudo, o de conseguir um trabalho digno e estável.

Possuíam um denominador comum que era o da ligação à terra de origem. Daí que uma das condições de qualquer trabalho fosse conseguir unir esforços para melhorar a situação social, fazendo economias para construir a sua casa e viverem mais folgadamente a velhice.

Era de certo modo um prémio merecido, não obstante o sacrifício da separação de tudo aquilo que lhes era mais prezado. Não era o país deles. Eram estrangeiros perante a sociedade em que foram integrados. Sentiam muita saudade e não esqueciam a terra-berço.

O estrangeiro “deu-lhes a mão”. Criaram-lhe esperanças. Venceram dificuldades, mas também passaram por algumas desilusões. Eu próprio presenciei. É necessário ter a sorte do seu lado. O que nem sempre acontece quando se empreende uma tal aventura.

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