A escola de Putin… um “Maquiavélico” do século XXI…

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

Quando se deu a invasão da Ucrânia pelas tropas russas de Putin, por mais estranho que pareça, não estranhei. Para além de ser professor de História, sempre me interessei pelo fim da URSS e da instalação no poder de certos oligarcas em Moscovo. É que a Rússia nunca foi uma democracia liberal do tipo ocidental. Instalado o poder no Kremlin, desde os Czares a Lenine e, sobretudo, a Estaline, nunca a Rússia foi uma democracia e os russos nunca souberam o que isso era, pois estiveram sempre debaixo de uma ditadura feroz. Mas para se compreender Putin e seus “colaboradores” temos que conhecer e compreender o seu “pai” ideológico, ou seja, Nicolau Maquiavel e o seu fabuloso livro “O Príncipe”. Está lá tudo. Este escritor político nasceu em Florença, em 1469, numa antiga família florentina dedicada à administração pública. (…) “Maquiavel observou a forma como os políticos pensavam, agiam e reagiam, e testemunhou um dos períodos mais convulsivos e tumultuosos da História da Península Itálica, dominada por lutas pelo poder e guerras sangrentas entre cidade-Estado”

1. Perseguido e maltratado, Maquiavel escreveu o Príncipe, “um tratado de teoria política particularmente inovador para a época, que pretende servir de manual de liderança para os governantes do futuro”

2. Este livro vai servir de “manual” para os futuros ditadores, da direita ou da esquerda. Mas o que diz concretamente este livro, que foi verdadeiramente “devorado” pelos ditadores ou candidatos a ditadores? Como escreveu Paulo Portas na introdução a este livro: “Dele nunca se poderá dizer que «não reza a história». Rezou até hoje e continua a rezar”

3. Grande verdade. Mas Maquiavel marcou para sempre a política, como diz Paulo Portas: “Mussolini acreditava no Estado totalitário e quis convocar Maquiavel em sua defesa”

4. Outros, mais ou menos disfarçadamente, pensam da mesma maneira. Apesar dos infortúnios da sua vida pessoal, Maquiavel continua vivo. Citando ainda Paulo Portas na sua Introdução: “Algumas das sentenças mais duras de Maquiavel são, precisamente, sobre a natureza humana, feita de homens geralmente ingratos, volúveis, simuladores, avessos aos perigos, ávidos de lucro e, enquanto lhes fazes o bem, são todos teus, oferecem-te o sangue, os bens a vida e os filhos, como eu disse antes, sempre que a necessidade esteja longe. Mas, quando esta se acerca, revoltam-se”

5.Como se pode ver, para Maquiavel, o Príncipe é mais respeitado se se fizer temer, do que ser amado. Ou seja, “o Príncipe só é eficaz se mantiver o cutelo por perto e à mão”

6. Depois de se ler este livro, percebemos muito do que se está (e estará) a passar no mundo em pleno século XXI, é quase como um manual de regras para os déspotas e oligarcas. Quando vejo o que se está a passar na Ucrânia, a morte de crianças, velhos e mulheres, e a fuga de milhares de pessoas, verto uma lágrima.

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