A hora mais negra

Alcino Pereira
Alcino Pereira

Na sequência do ataque hediondo perpetrado pela Rússia de Putin à soberania da vizinha Ucrânia, lembrei-me, entretanto, de um filme inspirador de 2017, “A Hora Mais Negra”, que teve como palco os bastidores da segunda guerra mundial.

Esse filme retrata o momento em que o incontornável líder histórico, Winston Churchill, está prestes a ser convidado para assumir o cargo de primeiro-ministro da Inglaterra, em Maio de 1940, atendendo à conduta beligerante da Alemanha de Hitler, que num ápice ocupou vários países da Europa. 

 Acossado pela revolta oposicionista e, concomitantemente, pela contestação popular, o incumbente primeiro-ministro Neville Chamberlain, visivelmente fragilizado, demite-se, sendo apontado o nome do Ministro das Relações Exteriores Lorde Halifax como potencial sucessor, por seguir a linha política apaziguadora que até aí tinha prevalecido. Mas devido às exigências irrevogáveis da oposição, o nome de Churchill surge como o mais habilitado para enfrentar as ameaças nazis, não tendo o Partido Conservador outra alternativa senão indicar ao Rei George VI o seu político mais controverso para chefiar o governo.     

Com o rótulo de bonacheirão, impertinente e destemido, Winston Churchill é o homem certo para este cenário de guerra, já que, ao invés da cúpula do Partido Conservador, sempre denunciou as intenções expansionistas de Hitler, criticando veementemente as tentativas de um acordo com a Alemanha Nazi, sendo, na ótica deste, completamente infrutíferas, traduzindo-se num rotundo desastre, tal como ele previa.  

Churchill, com o seu habitual  carisma, assume o hercúleo desafio de defrontar Hitler, não obstante a gravidade da situação, que piora consideravelmente em poucos dias, com o poder bélico Nazi, numa escalada sem precedentes, a invadir a Holanda e a Bélgica e, de seguida, encurralar as desmedidas forças militares Inglesas e Francesas nas praias de Dunquerque, tendo sido salvos uma boa parte desses militares por embarcações e veleiros pertencentes a gente anónima, devido a um pedido expresso de Churchill.

Caindo também a França às mãos dos Nazis, o pessimismo e o desalento pairam no governo inglês, perante um eminente ataque das forças de Hitler à ilha britânica, deixando Churchill atónito e receoso, equacionando, devido ás pressões do influente Halifax uma eventual negociação com Hitler.

Contudo, não lhe parecendo essa opção justa, nem digna, Churchill resolve ir ao encontro do povo para obter uma legitimação, introduzindo-se no metro de Londres para auscultar todos os conterrâneos ocasionais que por ali estão de passagem. Estes, respondendo ao repto, demonstram a sua unanimidade, clamando pela defesa intransigente do seu território contra os Nazis, recusando qualquer rendição.       

Assim sendo respaldado pela resiliência do povo inglês, Churchill profere um dos discursos mais memoráveis e mobilizadores do século XX, na câmara dos comuns, incentivado a sua nação a resistir à previsível invasão.

O exemplo deste filme e a comparação com a investida hostil dos Russos à Ucrânia, demonstram que o diálogo só pode surtir efeito se, do outro lado da barricada, existir alguém com um mínimo de racionalidade, caso contrário, se essa personalidade pender para a tirania ou obstinação, as conversações tornam-se provavelmente difíceis, e tendencialmente inúteis.  

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.