A Mercearia e o posto de recolha do leite

Leandro Matos
Leandro Matos

Decorriam os princípios dos anos cinquenta. Meu tio e meu pai dispunham de uma mercearia e vinhos no rés do chão da casa que é hoje pertença do meu tio Domingos, outrora dos meus avós paternos. Foi naquela casa que nasci, assim como todos os meus irmãos. Era assim. Nascia-se em casa. Enquanto mercearia, dispôs também, à época, de um posto de correio. Ali se vendiam selos, faziam registos e carimbavam-se as cartas e encomendas. Recordo-me de uma senhora, a “Ana Lavradas” que era esposa, ou pelo menos tinha algum parentesco, com o moleiro que na altura cuidava da moagem existente junto à casa do Mendo, em frente à loja da “tia Palmira”. Deslocava-se diariamente desde o Paço-Mujães à mercearia dos meus familiares para levantar o saco das cartas, em linhagem ou lona, fechado, lacrado e levá-lo, à cabeça, até Barroselas. Sucedeu-lhe a “Olívia Gorita” e posteriormente a “Arminda do Casal” . Recordo, que o fardo era, por vezes, bem pesado. Ali era feita a devida separação e seleção de todo o correio que seguia então à cabeça destas mulheres até à central sediada em Barroselas, para se juntar aos demais e seguir no comboio os seus destinos.

Posteriormente a loja fechou.

Meu tio emigrou para França e o meu pai adoeceu, e, viu-se obrigado a abandonar o comércio que ambos dispunham.

De realçar que, à época as senhoras, já casadas, lá na aldeia, eram tratadas por “tias” e os homens por “tios”, o que significa hoje “Donas” e “Senhores”, respetivamente.

Depois da mercearia, mais tarde, aquele mesmo espaço, deu lugar a um posto de leite. Agora, completamente extintos! As pessoas, agricultores mais ou menos abastados daquela freguesia, Vila de Punhe, e mesmo das freguesias vizinhas que, dispunham de vacas leiteiras, transportavam-no até ali ao cair da tarde de cada dia, para ser analisado, depositado em grandes vasilhas, e vir a ser recuperado e levantado já ao anoitecer, por um grande camião pertencente à firma Martins e Rebelo que, na época, o levava para Vale de Cambra, terra onde possuíam uma grande indústria de laticínios. Não tenho, em memória, o tempo que o posto de leite ali esteve instalado, mas pelo menos cerca de cinco anos ou até mais, foi com certeza. Teve que ser.

Relembro a casa onde nasci com saudades da minha infância tão rica de episódios como estes! Fica, então este registo para os vindouros que já remonta há mais de seis décadas. Era eu bem jovem e frequentava a escola primária.

As personagens de que se fala já nenhuma faz parte dos vivos.

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