A Romaria da Senhora d´Agonia em 1958

Alcino Pereira
Alcino Pereira

Recorrendo a um vetusto vídeo desse ano, aceitei debruçar-me sobre um filme que faz uma retrospetiva atenta acerca da romaria mais popular do país, usando um dos exemplos mais eloquentes da sua componente histórica.

Focando-se a narrativa sobre a edição das Festas da Agonia de 1958, o introito do filme realça os dias que antecedem a romaria, exibindo as potencialidades da cidade de Viana, como elemento imprescindível do evento. Em primeiro lugar, fazendo menção ao majestoso Santuário do Monte de Santa Luzia que, na zona circundante, proporciona uma vista fabulosa, observando-se a profundidade do Rio Lima, na relação harmónica com a urbanidade e o lastro verdejante. No percurso de carro ou pelo elevador funicular, o visitante delicia-se com a paisagem e as espécies de flores que dão lustro àquele sítio de grande envergadura. Por sinal, aproveitado por alguns dos transeuntes para invocar a transcendentalidade que o Santuário confere, enquanto outros desfrutam do local, como mero complemento adicional às festas.

Ao descerem até à cidade, já se nota o frenesim do certame, com muita gente a vaguear pelo centro histórico, fixando-se especialmente na cosmopolita Praça da República. Em simultâneo, identificamos o jardim da Marina, destacando o aspeto aprazível do local que, munido de plantas de forte colorido, suscita tranquilidade e paz interior.

Deslocando-se até margem sul do Rio Lima, o realizador aborda a Praia do Cabedelo, salientando a sua enorme extensão e a peculiar areia fina, com barracas à entrada da praia, e a particularidade, subentendida, de que apenas os homens iam a banhos, enquanto as mulheres permaneciam impávidas no areal. No parque do campismo, ali ao lado, intuía-se uma interação profícua dos veranistas com a natureza, que os estimulava a interagirem uns com os outros.

No regresso ao centro da cidade, são visíveis as ocorrências no Rio Lima, com atividades de desporto náutico e dos pescadores acompanhados pelas embarcações, parecendo confiar no vaticínio da Senhora da Agonia, esperando que ela, futuramente, lhes venha a conceder uma safra de qualidade.

No dia seguinte, aparentemente, depara-se com uma considerável turbamulta, alegre e entusiasta, concentrada na Praça da Républica e nas ruas adjacentes, aguardando a provável abertura das festas, protagonizada pelo desfile dos castiços cabeçudos, em harmonia com os estridentes bombos. Com o ambiente ao rubro, num ápice pula-se até ao Campo da Agonia, onde é patente o calor humano e se aproveita os equipamentos recreativos à disposição, que na altura já estavam em voga; depois, a incontornável feira, que fornece um mundo de parafernálias, mais o som das concertinas, que contribui para instalar alegria transbordante nos mais efusivos participantes, os curiosos que sobem para as furgonetas para não perderem pitada, e a visita obrigatória à Capela da Nossa Senhora da Agonia.

Posteriormente, mas num âmbito claramente solene, os populares detêm-se diante da Procissão e de seguida do Cortejo, sufragando, vincadamente, os vernáculos culturais, que torna esta festa indelével, contando com a colaboração de milhares de figurantes, que dão brilhantismo à romaria.  Numa fase final, a filmagem remete-nos para um festival folclórico, completamente lotado, notando-se o interesse que despertava na população. Para fechar, o notável fogo de artifício, que demonstra ter estado em bom nível. Concluindo esta súmula, reforço a pertinência desta relíquia cinematográfica, principalmente pelo simbolismo que patenteia, fundamental na divulgação das festas do passado às novas gerações.

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