A velha Aliança

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Fomos rotulados como destino de risco para turistas, mas não exorcizamos tristezas invocando velhas alianças. Neste salve-se quem puder para minimizar efeitos pandémicos ninguém se respeita nem se solidariza. Se nem a União Europeia, um espaço de sofrível unidade, consegue uma política comum para enfrentar o inimigo invisível, como podemos esperar que o mundo em geral o faça?

Na verdade, temos com os Ingleses uma aliança que data de 1373 e se reforçou em 1386 com o tratado de Windsor, depois da vitória na batalha de Aljubarrota, em que contamos com a ajuda das suas tropas. Mas disponibilizar-nos alguns combatentes para ajudar a esconjurar inimigos diz pouco. Daquelas bandas, houve sempre interesses económicos a justificar solidariedades. Atente-se no apelidado acordo dos panos e dos vinhos de 1703 (Tratado Methwen) no qual, segundo os especialistas, só saímos a perder. Por isso o anulamos em 1836, quando se desejava eterno.

Também nos ajudaram a expulsar as tropas de Napoleão de Bonaparte na Guerra Peninsular, mas depois esmoreceu a vontade de sair de Portugal, sendo preciso conspirar para os mandar de volta.

Mas isso é outra história. Atente-se antes no presente e nas estórias de Boris Johnson. Começou por desvalorizar a pandemia e apostou na imunidade de grupo. Intrépido, acabou no hospital, onde, segundo ele, um enfermeiro português ajudou a salvar-lhe a vida. Recuperou, mas mais de 44.000 dos seus concidadãos não tiveram a mesma sorte.

E a situação está longe de controlada. No dia 3 do mês corrente, por exemplo, infelizmente, faleceram 137 pessoas no Reino Unido, sendo a esmagadora maioria de Inglaterra. O convencimento e o individualismo perante um inimigo desconhecido tem este triste fim.

Como bem diz António Guterres, o mundo não está preparado para enfrentar este flagelo da Covid 19 e o que deveria fazer era, com humildade, unir esforços para acertar uma estratégia comum que enfrentasse o mal. Mas, olhando para o panorama mundial, o que vemos é cada um por si e um pouco todos contra todos, tentando, em pânico, evitar o naufrágio e o consequente colapso económico, mesmo que para isso tenha que se fazer batota na divulgação de mortos e infetados.

Portugal, como todos, tem os seus problemas e tem aspetos de sérias apreensões, que, está provado, foram desvalorizados. Mas tem evitado dramas, contornando dificuldades melhor que a esmagadora maioria dos países, com o feito heróico de proteger os mais idosos, algo que outros bem mais desenvolvidos não conseguiram ou não quiseram. Colocar-nos na lista de países de risco também é muito para encobrir dificuldades próprias, com despeito à mistura.
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