A verdade acima de tudo

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Todos sabemos o quanto é difícil a arte de governar. Pior, ainda, quando a riqueza é escassa. E muito pior quando a Europa se confronta com uma guerra que não se sabe como vai acabar, com duras consequências para o mundo inteiro. Por norma, os políticos, mesmo perante um quadro sombrio, tendem a mitigar a situação e, tantas vezes, a desdizer hoje o que ontem era a sua verdade. Felizmente, isto vale para os países onde impera a liberdade, porque, onde a tirania reina, nem justificações há a dar sobre políticas que o tirano decide de moto próprio. Felizmente, somos livres… Porém, as sociedades abertas, e Portugal não foge à regra, ainda têm um longo caminho a percorrer no domínio da governação assente nos princípios da transparência. Nem todas são iguais, porque o comportamento dos governantes também tem muito a ver com a cultura e exigência de quem os elegeu. Um povo culto, composto por cidadãos que não se alheiam da vida política e social do seu país, pactua bem menos com a falta de clareza de quem os governa.

O que está a acontecer entre nós com o plano anticrise recentemente apresentado e, particularmente, no que toca aos reformados, é bem o exemplo da prática da verdade que não se deve usar. Já todos sabemos que o Governo se prepara para não cumprir com o estabelecido na lei que determina o aumento das pensões em função da inflação verificada, e que pretende que a mesma seja rapidamente alterada, de forma a fazer uma atualização futura, em cada ano, tendo como base valores bem mais baixos do que aqueles a que está obrigado pela lei em vigor.

O envelhecimento da população é um facto, e não temos dúvidas de que, com o evoluir do tempo, teremos rapidamente um trabalhador ativo para cada pensionista. Em 1974 eram nove ativos por reformado e hoje são quase dois. Ninguém desconhece que a longevidade cresce e a população, porque o índice de nascimentos é insuficiente, tende a diminuir. E não se ignora que a Segurança Social tem que ser gerida com pinças para acautelar o futuro dos mais jovens.

Tudo bem, mas menos bem é tudo isto não ser alvo do esclarecimento e do debate devidos. Há quanto tempo se alerta para este quadro complexo? Há quanto tempo se propõe o debate urgente e a tomada de medidas para garantir o não sacrifício dos vindouros nas suas reformas? É incómodo? Claro que é. Ótimo, é dar abraços e fazer selfies. Também fazem falta, mas mais falta faz ser sério com os portugueses e, com estes, fazer um Portugal mais evoluído e mais justo. E nada de jogos de bastidores. A verdade pode não ser simpática, mas é a verdade…                                                                       GFM 

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