À volta da História da Língua Portuguesa (Notas Introdutórias)

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

Sempre tive uma enorme curiosidade em saber como “nasceu” a língua portuguesa, a língua que falamos todos os dias. Para além disso, também estranhava porque é que, mesmo dentro de um país pequeno como o nosso se fala diferente, ou há expressões diferentes, de região para região.

Esta minha curiosidade nasceu, era ainda um miúdo, quando fui a uma propriedade, que agora é minha, em Aboim da Nóbrega (atualmente, concelho de Vila Verde). O automóvel deixava-se na vizinha freguesia de Azias (concelho de Ponte da Barca), e daí até ao lugar de Casais de Vide tinha que se ir a cavalo, pois não existia, naquele tempo, uma estrada para o automóvel nos levar.

Aí, ao falar com o pessoal daquela aldeia, eu não percebia que, em muitas palavras, a pronúncia era “estranha”, por exemplo: dizemos, “está a chover” eles diziam “está a tchuver”. Em vez de dizerem “chouriças”, diziam “tchouriças”; em vez de “caminhos”, diziam “carreteras”, e muitas outras expressões que eu, na minha ignorância, pensava que eram erros, que não sabiam falar, esquecendo-me que a Galiza fica ali tão perto…ainda por cima numa época em que havia, muito contrabando com terras da Galiza, para poderem sobreviver.

Também quando vim, como professor de História, para Sendim (concelho de Miranda do Douro), estranhei certas palavras, sobretudo ditas pelos mais idosos. Ao dar uma pequena volta pela aldeia (hoje vila), “saíram-me” à minha frente três senhoras de idade que, estando a falar, eu não percebia nada, rigorosamente nada. Virei-me para os meus acompanhantes dizendo-lhes: “estou lixado se os netos/as falarem assim, só se comunicar por língua gestual”. Eles, vendo a minha aflição, responderam: “não te preocupes que os netos delas não falam mirandês (filho remoto do Leonês, de Leão, ali ao lado da fronteira), os netos já só falam a “língua fidalga” (ou seja, o português que aprendem na escola)”.
Hoje já gostam de falar o mirandês (embora não seja falado na Terra de Miranda, de igual modo em todas terras).

Eu próprio incentivei os alunos a estudar a língua dos seus antepassados (e já são centenas a terem prosa de assim falar) e também alguns meus colegas a ensinarem essa língua (oficialmente já é uma língua), aos seus alunos.

Eu próprio sou sócio da “Associaçon De La Lhéngua I Cultura Mirandesa”. Também, na minha “peregrinação” de professor, fui parar um ano a Beja (Baixo Alentejo) e outro à Sertã (distrito de Castelo Branco), onde aconteceu exatamente a mesma coisa, que me veio enriquecer.

Obviamente que em Beja a influência do árabe era bem evidente, não só através dos moçárabes, como iremos ver ao longo destes meus artigos.

As línguas são “vivas” e ao longo do tempo vão mudando: por influência de vários povos que cá estiveram e deixaram o seu contributo; pela imigração; pelos acordos ortográficos e, ultimamente, pela força dos meios de comunicação, que já são imprescindíveis à nossa vida quotidiana, como os telemóveis, os computadores, a própria televisão e outros instrumentos da comunicação social.

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