Acerca de Estatutos

Manuel Quintas
Manuel Quintas

Há muitos anos que sou irmão da Confraria de Santa Luzia, a pedido do meu ante antecessor José da Costa Freitas. O Avelino Rocha, de Mazarefes, vinha, anualmente, bater à minha porta para receber a cota anual de 2$50. Era o único sinal da minha pertença, com o qual fiquei largo tempo. Nada de informações, nada de instruções, nada de reuniões, nada de voto, nada de voz, nada de estatutos, nada de nada. Apenas inscrito e com cota em dia, assim vivi a minha pertença até ao dia em que o Padre Constantino Macedo Sousa me descobriu e procurou para chefiar a Confraria. Aceitei reverencialmente, mesmo sem saber nada de nada. Mas curiosamente, passados uns dias, só uns dias, o mesmo Reverendo voltou a procurar-me para me comunicar que falando com o Senhor Bispo este o tinha indigitado a ele para Presidente e que eu seria Vedor do Culto. Continuando eu sem perceber o que isso era, vivendo a minha paz areosense a repetir a frase da atriz Marina Mota: “Desta já nos safemos”.

A república maçónica do 05 de outubro de 1910 criou este cargo para arrolar o que havia nos templos, denunciar as homilias dos celebrantes e fiscalizar os movimentos da Igreja Católica.

Estatutariamente, era esta a minha função. Sucedi a Luciano Gaião, industrial vianense de sucesso no ramo da metalurgia, natural da minha terra adoptiva de Areosa, onde ele nasceu e brincou no sítio do Barro. Fiz o que me foi possível fazer debaixo da contundência do Padre Constantino que nunca quis bulir nos estatutos. E, valha a verdade, também não valia a pena porque, para ele, “L`etat c`est moi”. Só na chefatura de Henrique da Mata é que tais estatutos foram mudados em algo tão pouco que logo se mostraram incompletos e inadequados. E são ainda os que estão em vigor. Muito pelejei, sem sucesso, para que se atualizassem. Até cheguei a pedir à Menina Santa Luzia que fosse ela a fazê-los. Mas ela achou que eu estava a brincar e era mesmo verdade. Mesmo assim, para me pacientar, teve a delicadeza de me recitar os versinhos dos meus anos de escolinha primária: “Anda para a frente rapaz, deixa-te de velhas razões; é mais tolo quem dá ao mundo satisfações” (Versos do Velho, do Rapaz e do Burro). Percebi.

A Igreja atrasada nunca foi a minha igreja.

 

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.