As comemorações do 25 d´aBrasil

Rui Maia
Rui Maia

No passado dia 25 de abril muitos portugueses assistiram boquiabertos às comemorações do Dia da Liberdade – dos Cravos, o dia que, supostamente, libertou o País das mordaças, sobretudo as do Estado Novo. Não obstante, apesar de concordar que o Estado Novo se revestiu de um lado negro, pífio, violento e opressor, que ofuscava as mais elementares liberdades, não me atrevo a tecer uma leitura anacrónica acerca dos factos e das razões que ditaram a queda do Regime de Oliveira Salazar. Tal como a generalidade dos cidadãos prezo sobremaneira a liberdade, mas não a libertinagem! As regras, a disciplina e o respeito, são dos mais elementares pilares de qualquer democracia que se queira afirmar, sobretudo quando se julga encontrar num estado de maturidade sólida.

Nesta breve crónica cinjo-me a uma mera leitura do que vimos e ouvimos dos mais altos representantes da Nação, aquando das referidas comemorações do 25 d´aBrasil. 

Ora, confesso que senti vergonha pelas palavras proferidas pelo Primeiro Ministro e, pior ainda, as do próprio Presidente da República. A nossa língua, a língua de Camões, esse em quem ela encontra talvez o seu expoente máximo, foi enxovalhada com tal leviandade que até os céus bradaram de semelhantes barbaridades vociferadas. Não bastava o miserável Acordo Ortográfico, assente num pântano de incongruências, devendo envergonhar todos os portugueses, para assistirmos a mais uma triste investida. 

O Primeiro Ministro regozijou-se lembrando as detestáveis novelas brasileiras (não por serem brasileiras – mas por serem novelas) que contribuíram para que o povo domesticado se mantivesse mentecapto. A televisão foi-se democratizando em Portugal, com produções importadas, em nada pedagógicas, que apenas fomentaram e fomentam a mediocridade. Lembrou que os portugueses apenas lamentam não falarem com o sotaque do Brasil. Mas que aberração de observação, quão ridícula a forma como imprudentemente se generaliza em nome de um coletivo. O Presidente da República (talvez o pior de que há memória), referiu que Portugal deve um pedido de desculpas ao Brasil e a outros países devido à colonização, recordando, entre outros motivos, o tráfico de escravos. Enfim, uma paródia sem paralelo que custou muito dinheiro do erário público, teatralizada na Assembleia da República, num País como o nosso onde impera a inoperância da Justiça, a corrupção, onde a classe média tende a desaparecer, onde não há verbas suficientes para a saúde, para o ensino, onde há sérios problemas de habitação, onde se paga uma elevadíssima carga fiscal, enfim, uma panóplia quase infinita de desgraças sociais e económicas – que persistem passados 49 anos após o 25 d´aBrasil.

Portugal segue o bom caminho, se esse caminho que percorre for o abismo, porque francamente não se agouram melhores dias com as escolhas que o povo tem feito. E, a propósito de tais barbaridades proferidas no dia 25 d´aBrasil, porque não entregar Portugal a Espanha? Talvez, e apenas hipoteticamente, Afonso Henriques tenha sido um bárbaro na sua conduta, um sanguinário, que até com a própria mãe digladiou.

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