As inquietações do mundo

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Em modelos de regime e de governo, nada se pode considerar como razoavelmente estável. Para alguns, a estabilidade só é possível em ditadura, mas, para quem cultiva a liberdade, tal como a sentimos no país que habitamos, esse é o caminho menos aconselhado. Contudo, ninguém nos diz que a liberdade que hoje tantos amam não se possa tornar desinteressante para a maioria dos que elegem o poder. Tudo tem muito a ver com o encanto ou desencanto com os governos que se vão escolhendo, na forma de governar e de solucionar problemas.

Os eleitorados, mesmo os mais esclarecidos, são muito avessos a fazer e a aceitar análises conjunturais, sejam elas domésticas ou universais. No fundo, o que todos desejam é ver os seus problemas resolvidos, o que não deixa de ser legítimo. É por isso que vamos assistindo à tomada do poder por gente de extremos em países europeus, neste continente que vive em democracia plena e solidária há quase oito décadas. O que vamos observando é pouco animador e não pode deixar de ser bem percebido, por governantes e governados.

Sabemos como as crises são propícias ao surgimento do populismo e dos pregadores da demagogia. Na América Latina, por exemplo, alguns caudilhos costumavam dizer que com um palco e uma praça cheia de público conquistariam o mundo. Na Europa, julgávamos que não se iria tão longe, porque este é o continente que mais progrediu e melhorou as condições de vida das pessoas, sem esquecer a liberdade, que é o bem mais precioso do Ser Humano. Mas o mundo é como é, e só pode ser enganado quem não quer acompanhar a evolução das sociedades nem quer compreender os desafios que permanentemente a estas se vão colocando.

O que vai acontecendo em países que sempre foram de democracia sólida, abraçando agora o radicalismo, deve preocupar-nos a todos. Porém, sem nos deixar cair em apreensões excessivas, porque, como por vezes se diz, nada melhor do que dar a oportunidade aos demagogos, para que saibam o que custa governar. Isto, sem nunca lhes dar a possibilidade de eles se estabelecerem no poder a tudo o custo, como recentemente vimos nos EUA.

Há muito para aprender, e todos deveremos estar cada vez mais informados, mas os grandes desafios refletivos colocam-se mais diretamente a quem é poder e a quem o pretende. Já aqui se escreveu que o pior que se pode fazer à democracia é não falar verdade aos cidadãos. Contrariamente ao que alguns possam pensar, a verdade dá solidez ao Estado de Direito. Um povo informado, preparado e mobilizado para os grandes desafios com que as sociedades se deparam, é um povo armado e pouco permeável ao discurso do facilitismo.

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