As memórias da emigração açoriana

Daniel Bastos
Daniel Bastos

Recentemente, a Araucária, uma editora independente com sede na ilha de São Miguel, nos Açores, fundada pela ativista cultural espanhola Blanca Martín-Calero, lançou o livro Laudalino da Ponte Pacheco (1963-1975).

Concebido a partir de uma centena e meia de imagens de Laudalino da Ponte Pacheco (1921-1998), cujo numeroso espólio constitui um repositório etnográfico das freguesias da costa norte da ilha de São Miguel, especialmente da Maia, onde o fotógrafo nasceu e viveu, a dimensão do valioso trabalho do retratista micaelense perpassa ainda o fenómeno da emigração. Um dos aspetos como salienta a historiadora Susana Serpa Silva, “estruturais da história do povo das ilhas atlânticas e da sociedade portuguesa em geral”.

Nomeadamente, a emigração açoriana para o Canadá a partir de 1953, ano em que o irmão mais novo de Laudalino partiu para Montreal. Maior cidade da província do Quebequebe, de onde no ano seguinte enviou por correio, a câmara fotográfica que permitiu ao irmão realizar retratos para passaportes e bilhetes de identidade, assim como retratar as tradições e a vida rural da costa norte da ilha de São Miguel, e as inúmeras partidas e chegadas de emigrantes.

Homem dos sete ofícios, além de fotógrafo, foi também carpinteiro, distribuidor de jornais e de tabaco, vendedor de rádios e reparador de eletrodomésticos, Laudalino da Ponte Pacheco viajou duas vezes até ao Canadá. No decurso das viagens à nação da América do Norte, onde adquiriu uma máquina de filmar Super 8 e um projetor, como destaca o livro homónimo, filmou “as casas dos familiares e dos amigos emigrantes, os edifícios, as ruas, os carros, as praças, os monumentos, as paisagens”, sendo que no retorno à terra natal, “passou os filmes em sua casa para os amigos visionarem, com grande sucesso”.

Na esteira das páginas do livro, as fotografias de Laudalino da Ponte Pacheco, sobre as vivências açorianas das décadas de 1960-70, constituem “documentos riquíssimos para a compreensão do território antropológico, sociológico e histórico da ilha de São Miguel, transformando a macronarrativa vigente em micronarrativas úteis para a compreensão e reflexão sobre um povo, as suas singularidades as vicissitudes e os desafios a que foi sujeito; compõem matéria para entender o presente e melhor programar o futuro.”

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