“As mulheres de hoje não querem, nem sabem como, segurar o seu homem”

manuel ribeiro
manuel ribeiro

Esta frase bem forte foi por mim ouvida, há anos, de uma senhora de grande experiência de vida, esposa, mãe, avó, enfim, uma matriarca po-derosa e amorosa, uma mãe e avó extremada, proveniente também de uma família numerosa, superando, sempre numa linha ascendente, as dificuldades próprias daqueles tempos, do antes e do pós-guerra mundial, tendo recorrido, como a maioria do povo português, à emi-gração, criando e educando a sua prole em terra estranha.

Entrados todos nós nos tempos revolucionários de Abril de 1974 e décadas seguintes, com significativas mudanças sociais, culturais e mo-rais, também ela foi sofrendo, na sua família, as consequências várias, entre elas a do moderno “casa-separa-casa-divorcia”, naquele quadro anedótico do tipo “antigamente, os muitos filhos tinham dois pais (pai e mãe), mas, na atualidade, os poucos filhos têm vários pais”. 

Verificando a Matriarca, com um casamento de meio século, que eram maioritariamente as mulheres a tomarem a iniciativa do divórcio, pelos mais variados motivos, foi nessa altura que dela ouvi essa sentença de grande realismo e muita profundidade: “As mulheres de hoje não sabem como segurar (manter, conservar) os seus homens”. O diagnóstico era tão certeiro e autêntico que se poderia pensar ter sido por ela ouvido nalgum lo-cal santo ou erudito. Errada esta conclusão. Na verdade, a matriarca nunca frequentou sacristias, e quanto à participação em cultos pie-dosos ou mesmo festivos apenas se deslocava em casamentos ou ba-tizados de família ou por expresso convite.   

Em 2019, ainda antes da pandemia, sucedia a tomada de poder no Afe-ganistão pelos Talibans, um bando radicalíssimo de “seminaristas” do Islão, que tem por característica e doutrina, considerar as mulheres, todas as mulheres, novas ou velhas, um sexo perigoso e diabolicamente tentador para os coitados dos ho-mens, quer sejam jovens, maduros ou velhos. E, nesse momento, muito torturado com esse acontecimento, decidi encetar uma “campanha” em prol das mulheres. De consulta em consulta, de recolha em recolha, em muitas fontes de conhecimento, não foi difícil concluir que as três “religiões do livro”, monoteístas, umas mais outras menos, jamais têm sido justas com as mulheres. E a influência religiosa ainda tem um enorme peso.

As mulheres, nos países teocrá-ticos islâmicos (não esquecer que “teocrático” significa “poder de Deus”) sofrem muitas proibições, tais como, conduzir viaturas de qualquer espécie, praticar desporto e… por mais incrível que pareça, assistir a um jogo de futebol, por exemplo.

E no chamado Ocidente, de matriz cristã, mas, sobretudo, com cultura católica? Apesar do contravapor praticado pelo catolicismo (não esquecer que o catolicismo é uma vertente tardia do cristianismo, caracterizada pelo poder religioso e moral centrado em Roma, por dogmas proibitoriamente in-discutíveis, pelo culto ao estado de virgindade das mulheres, pelo desprezo a todo o tipo de relações sexuais, pelo amor doentio ao so-frimento e à resignação e, claro, pela abominação do prazer, da festa e da alegria terrena) nem esse poderoso contravapor está a resultar. Pelo contrário. Em praticamente todos os países ocidentais, mesmo que maioritariamente católicos, têm sido aprovados todos os projetos de lei nos parlamentos ou em referendos, cujos temas, ditos fraturantes, são caros à Igreja Católica. 

Ou seja, o Mundo Ocidental está, nesta matéria de cânones e costumes, a seguir um caminho diametralmente oposto ao oriente “religioso”. Para este caminho oposto, em 180 graus, têm contribuído os partidos de esquerda e extrema-esquerda, sobretudo, mas também da direita), e os movimentos fe-ministas ou do tipo LGBT. O mundo vai de um extremo ao outro extremo, sem equilíbrio e sem sensatez. Ora, os extremos tocam-se. 

Manter, acriticamente, o con-servadorismo da Igreja Católica não tem resolvido nenhum problema e, pelo contrário, a confusão é cada vez maior e, apesar do realismo do Papa Francisco e da sua clarividência, ain-da não conseguiu suster a indiscutí-vel decadência dessa instituição cristã. A instituição do matrimónio perpétuo (ou indissolúvel), que é uma base moral da Igreja, está manifestamente abalada no mun-do ocidental, acabando por trazer inúmeros problemas às comunida-des familiares, às religiosas e até às comunidades civis. Nada adiantou ao catolicismo criar leis rígidas em catadupa. Direi: menos leis e mais ajudas no aconselhamento. O mais importante deveria ser a prestação de apoio, em clima de diálogo livre, e aproveitando ex-periências valiosas de pessoas simples ou conhecimentos e estudos feitos em instituições cientificamente credíveis. Não me venham com a solução absurda de fazer aconselhamento a casais com celibatários. A Humanidade talvez seja um mistério tão desconhecido como é Deus, o Universo, a Terra e a Natureza. O ser humano é de uma complexidade infinita e não é num laboratório por mais científico que seja, ou num sombrio escritório de canonistas que deve ser estudado. É na vida real, nos locais de trabalho, nas famílias, nas comunidades civis, nas periferias. Porque a confusão é enorme. 

Aquela Senhora experiente, do início desta crónica, teve a lucidez de analisar o que agora se passa à sua volta. São estes exemplos que devem ser apontados e seguidos. 

O que vai por aí é uma barbari-dade alicerçada na ignorância e no radicalismo, ou, por outro lado, na leviandade. 

E hoje fico-me por aqui.

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