Censura e censores

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

A exposição sobre a censura no período do Estado Novo que a Ephemera, de Pacheco Pereira, com o apoio do núcleo de Viana, tem patente no rés do chão dos Antigos Paços do Concelho deve considerar-se visita obrigatória. Felizmente, muita gente por lá tem passado, sendo de destacar as visitas organizadas pelas escolas, que mobilizam os alunos para que se documentem sobre quanto vale a liberdade.

A censura, que prevaleceu durante o consulado de Salazar, foi mais uma das misérias a que os portugueses estiveram submetidos ao longo de 48 anos. A máquina censória espalhada pelo país era algo de infernal na forma de privar a população da informação a que tinha direito. Nada podia vir à luz do dia sem que fosse alvo de apreciação minuciosa dos censores que, organizados e orientados pela cartilha do sistema, podiam decidir se sim ou não era publicável o material que diariamente lhes chegava às mãos.

Nenhum jornal, revista, livro, disco, filme, cartaz, etc. podiam vir à luz do dia sem passar pelo exame minucioso de gente que, formatada mental e ideologicamente para defender um sistema de governo iníquo, ainda vendia a alma ao diabo a troco de dinheiro. Em todas as publicações lá figurava o sinete “Este número foi visado pela comissão de censura”, deixando o recado de que era informação suficientemente crivada e moldada ao poder e ao modo próprio deste gerir a sociedade portuguesa. 

A censura amputava e cortava textos aos jornalistas para ocultar a verdade; proibia a venda de livros e outras publicações, manietando a criação dos autores; interditava e aprendia a música de que não gostava, sufocando a voz dos artistas; a censura era a estrutura que limitava tudo e todos, infernizando a vida de quem tinha valor e queria saber mais, com o objetivo de estabelecer o pensamento único no país.

Felizmente já lá vai esse tempo. Felizmente há liberdade. E, se há limites, esses são impostos pela consciência de quem cria, escreve e edita, respeitando os princípios da verdade e da clareza. Para além disso, há a justiça para decidir sobre a razão de quem a ela recorre. Mas a censura nunca estará de todo erradicada. Mesmo em liberdade, há formas subtis de manietar e inibir. Nem sempre se escreve dizendo toda a verdade e nem sempre se opina com a firmeza devida, porque os poderes, uns mais e outros menos, convivem mal com a crítica e dispõem de armas e formas subtis de censurar. Dizer a verdade, em qualquer área da comunicação, tem custos. Informar, para sobreviver, tem que ser cada vez mais uma arte. Felizes os que a conseguem ter!…

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