Crónica Agosto

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

Afastados dos grandes meios populacionais, após termos sido apanhados pela traiçoeira pandemia Covid-19, lamenta-se a impossibilidade da Romaria d´Agonia, como importante evento público, a nível nacional, não possa funcionar na forma relativa à tradição, recorrendo-se, nesse caso, aos meios digitais de comunicação. O recurso adoptado destina-se a assinalar aspectos importantes da sua programação numa alternativa que vai ser mostrada com o acautelado distanciamento e que os diversos canais de informação irão, de certeza, difundir. Para tornar mais viva a lembrança e amenizar a saudade da passagem de variados movimentos de autêntica alegria, imaginação e arte, aliado à fantasia, vou descrever, no tempo, pinceladas destes festejos.

A curiosidade que caracteriza as Festas da Senhora d´Agonia são os panoramas folclóricos a desdobrarem-se em quase toda a sua pureza. Dias de Agosto acalmado. O sol nítido, brilha no azul puro do céu, realçando pormenores de paisagem verde e húmida, que se desdobra, à medida que nos aproximamos da Princesa do Lima. O formigueiro humano que passa, alegre e barulhento e repassa, ao fim da tarde, após a passagem da procissão, do cortejo ou da Festa do Traje, ou pela noite adiante, depois do arraial, toma, por vezes, aspectos recreativos e etnográficos de inolvidável beleza.  O folclore é variado e sugestivo. A indumentária, o encanto e o colorido inconfundíveis do traje dão-lhe ainda mais realce. A etnografia local tem, aqui, a sua expressão mais fiel.

Os ranchos folclóricos da região vianense despertam entusiasmo, alegria e saber na sua exibição. Animam as festas e paradas com garridice do seu porte, não faltando o toque dos ferrinhos, dos harmónios e dos bombos, destacando-se a policromia dos seus fatos e o frescor dos seus descantes regionais. Os “viras”, sobretudo o Vira das romarias, as “gotas”, a “tirana”, o “verde gaio”, a “Rosinha”, o “regadinho”, a “chula” e outras danças movimentadas e donairosas com o seu acompanhamento musical prendem e fascinam as pessoas.

As noites de arraial na Romaria da Senhora d´Agonia são uma maravilha de luz e de denotações. É um espectáculo indescritível e inolvidável. Uma  multidão, aparentemente desordenada, mas identificada pelo mesmo desejo, aguarda, impaciente, a hora do fogo preso e do ar. É o verdadeiro ponto alto das noites. Os fogueteiros, através da pólvora, produzem artifícios gigantescos de alacridade e som.

Viana do Castelo, a cidade encantada do Lima, fez da sua Romaria a princesa de todas as festas do Alto Minho e de Portugal. São celebrações litúrgicas e pagãs, fidalgas e populares, com raízes profundas das fainas da pesca. Perante a narração do todos estes simbolismos, vamos aguardar pelo próximo ano, na esperança de termos presente, de novo, todas estas maravilhas do viver da nossa terra.

 

Nota: Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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