Crónica das Imagens do Viver

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

Sons Efémeros…
Conceitos do Momento…

O tempo passa tão depressa… Estamos em pleno Verão, mas a caminhar, apressadamente, para o Outono. As árvores, os arbustos, bem como toda a espécie de flores dos canteiros e a relva, tudo tratado a preceito, no Jardim Público da nossa cidade, para se conservar verdejante, situado en­tre o rio, o mar e a montanha, onde paira, na memória das gentes, uma monotonia melancólica, que retempera, fazendo bem aos nossos sentidos. Vem, a propósito, relembrar o escritor Camilo Castelo Branco, ao ter afirmado, quando por cá residiu bastante próximo da via que nos conduz ao monte de Santa Luzia que, aqui, até no Inverno os jardins, os quintais, os campos, montes e vales, dão flores. A habitação que marcava a sua passagem e que se observava da estrada em conjunto com uma placa afixada a marcar a sua pessoa, foi tudo, infelizmente, destruído pelo homem, na febre do lucro, para dar lugar a uma urbanização, sem tão pouco ter sido respeitada a sua memória, que era merecedora, na continuidade, desse destaque. O que é essencial permanece calmo. O vento anda tão alto e é tão sublime, que nem o arvoredo do jardim se faz sentir. É um recinto onde se desenvolvem activi­dades lúdicas, destacando-se alguns programas dos festejos da Romaria d’Agonia, como a Serenata e os fogos de artifício na ponte férrea e no rio, além da Feira do Livro e outras funcionalidades de diversão. Lugar, ainda que em tempos já decorridos, foi de passeio, aos fins da tarde, conjunta­mente com a antiga parte central da Praça da República, que veio a decair, depois, devido à abertura dos centros comerciais, que no vulgo passaram a chamar-se shoppings.
Por todo o concelho, aqui e além, capelas caiadas de branco, asseme­lhando-se a flores abertas num recanto do firmamento, atestam a religiosidade dos seus habitantes. É a Viana quimérica — a rainha do Lima — desprovida dos arranha-céus americanos, dos pagodes chineses, dos castelos franceses, das catedrais italianas e das musas gregas. Mas possui, no entanto, um dom que prende e fascina. À noite, devido ao seu clima temperado, por norma, a magestade impõe-se, quer pela sua quietude, quer pelo luar que a beija, docemente. Um sossego paira sobre a cidade adormecida e envolta num manto prateado tecido pelo envolvimento do rio, mar e serra. O sol, ao nas­cer, confere-lhe um tom dourado, concorrendo, ainda mais, para a sublimi­dade do cenário, ao mesmo tempo que uma vaga agitação, vinda do lado do oceano, vai levar a todos os cantos da zona urbana o perfume dos seus jardins envolvido com o cheiro a iodo. A coroar o levantamento dos arruamentos, no centro da urbe, ergue-se os antigos Paços do Concelho — eminência rochosa — que bem merece a denominação de “Parténon Vianense”. No deambular, através do olhar e do pensamento, o elevador leva-nos ao monte de Santa Luzia. O Zimbório do Templo desafia o céu, elevando a alma à procura Daquele de quem o mundo depende, onde os pensamentos se diluem, lá do alto, no voar dos tempos.

Sidónio Ferreira Crespo

Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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