CUIDAR Informalmente – Trajecto operoso e solitário

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No passado dia 5 de Novembro assinalou-se o Dia do Cuidador!
Homenagem a todos que dedicam do seu tempo com verdadeiro sentido de amor e carinho, àqueles que se apresentam sem condições para cuidar de si próprios, por motivo de doença e incapacidade.

É basilar a consciencialização da sociedade para a importância desta causa, para que se entenda o cuidador informal como uma profissão a tempo inteiro, com uma angústia e insegurança permanente no que vai acontecer a seguir, de aprendizagem diária, aprendizagem com o doente e de como fazer o melhor para com o doente. Nada nos prepara para este papel, para a situação de cuidarmos dos nossos pais, marido, esposa, filhos, irmãos; obriga a aprendermos a lidar com o doente, a dimensão da sua saúde e das suas emoções e a lidar com a nossa própria emoção, a lidar com os momentos adversos, a gerir as diferentes situações delicadas que vão surgindo no dia-a-dia e que muitas vezes não são expectáveis.

É basilar a consciencialização da sociedade para a sua importância, assim como o reconhecimento de um Estatuto que levou anos à reflexão e ganhou a sua aprovação em Setembro reunindo o apoio de todos os partidos, aguardando-se, agora, a sua regulamentação governamental no que concerne às medidas legislativas e administrativas.
O documento vem reconhecer dois tipos de cuidadores: o principal e o não principal. Apresenta como a grande diferença entre um e outro, o facto do principal ter que acompanhar o doente a tempo inteiro, não podendo ter emprego remunerado e tendo que, cuidador e pessoa cuidada, viver na mesma casa.

O requerimento passará oficiosamente pelos serviços da Segurança Social com vista à efectivação de algumas medidas, como sendo, subsídio de apoio aos cuidadores, o descanso a que têm direito e medidas relativas à sua carreira contributiva.

Inegavelmente quem vive ou tem contacto com esta realidade, percebe e sente que com o passar do tempo, o cuidador entra num processo de desgaste físico e emocional, “encarna” um processo operoso e solitário que não se pagina com as exigências do mercado de trabalho, deparando-se com um constante reorganizar da sua vida pessoal, passando a ter pouco tempo livre ou quiçá seja totalmente inexistente. Portanto é nevrálgico que as medidas de apoio se centrem com efeito no direito de podermos cuidar dos nossos com a dignidade legitimada.

Espera-se que o Estatuto venha contrariar um processo penoso, burocrático e frio, almeja-se um apoio multidisciplinar, profissionalizante e útil que vise a capacitação do cuidador e simultaneamente impõe-se, um caminho rápido e que chegue fluentemente aos apoios a que têm direito doente e cuidador, porque, o “depois” pode ser tarde de mais!

Espera-se numa sociedade que vive cada vez mais, que a longevidade não seja percepcionada como um “fardo” mas, pelo contrário, como uma conquista, sendo fundamental encontrar-se formas humanizadas de respeitar as pessoas até à finitude sempre que possível no seu meio protector.

Maria Jesus Névoa

Assistente Social

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