Cultura Popular – UM património cada vez mais a preservar

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

Numa conversa de café, um amigo meu convidou-me, em modos de desafio, a escrever um artigo sobre cultura popular para ser publicado no jornal “A Aurora do Lima”, perguntando-me se eu estaria disposto a tal empreendimento. É evidente que sim, pois não tenho preconceitos para falar do que penso ser importante e, para mim preservar o património do nosso povo é fundamental, sobretudo numa época de “globalização” em que ele é sistematicamente destruído. Não trato as pessoas pelo seu «estatuto» social. Para mim as pessoas têm ou não valor por si próprias, por aquilo que valem e não pelo “partido” em que militam ou pela «classe» a que pertencem. Posto isto vamos ao nosso assunto.

A Carta Europeia do Património Arquitectónico (Conselho da Europa, Amsterdam, 1975) chama a atenção para o seguinte: “(…) O património está em perigo. Está ameaçado pela ignorância, pelo envelhecimento, pela degradação sob todas as suas formas, pelo abandono”. Infelizmente isto aplica-se também ao nosso património, quer seja o construído quer seja o imaterial, este ainda mais agora com o  covid-19 que obriga ao chamado “distancionamento social”. É urgente preservar o que ainda vai existindo, sobretudo o património não construído, que por isso mesmo, é mais fácil de desaparecer.

Costumo dizer que: “sempre que morre um idoso (ou uma idosa) desaparece  um arquivo”. A vida moderna, com a globalização da cultura, o pouco tempo para se falar com os filhos e os netos, a televisão, o desfazer da família tradicional, entre outros, despreza o “saber da experiência feito” dos mais “velhos”, daqueles que ouviram histórias, contos, lendas e outros saberes transmitidos por seus pais e avós, à lareira nas longas noites de invernia ou no amanho dos campos ou ainda no mar. Hoje, qual novo rico, despreza-se esta cultura dita «atrasada», «velha», «pobre», «que já não interessa». Desprezamos esta nossa cultura genuína e substituímo-la pela cultura da televisão, das telenovelas, pela chamada “cultura de massas”, das “casas dos segredos”, dos mass media, contribuindo assim para a “macdonalização” da cultura. Não tenhamos dúvidas de que ficamos muito mais pobres.

É urgente sensibilizar, sobretudo a nossa juventude, para a recolha e preservação da cultura popular. Não para a «mumificar» em arquivos que se irão encher de pó (obviamente que eu sou a favor dos Arquivos, mas para serem consultados…), mas para a «viver» naquilo que ela tiver de interessante. Nesta sensibilização tem um papel fundamental as autarquias, as associações culturais e, sobretudo, as escolas. A escola não serve apenas para “memorizar” os acontecimentos mas, sobretudo para sensibilizar os alunos para a cultura.

Na nossa região o Parque do Nacional da Peneda-Gerês, e outras zonas naturais e culturais,  têm uma grande responsabilidade na sensibilização das populações para a preservação da arquitectura popular. Um Parque Natural, ou Nacional, com as paisagens e as aldeias todas «desfiguradas» não será um Parque atraente. Deve-se explicar ao povo que o turismo rural poderá ser uma boa fonte de rendimento, que poderá ser um complemento importante para a sua economia numa época em que a agricultura está como está, ou seja, em que é difícil viver do que dá a terra. Também a culinária tradicional é outro património a preservar. As receitas e os pratos tradicionais têm de ser registados e divulgados. Para isso, os nossos restaurantes e as nossas tasquinhas, devem oferecer aos turistas (nacionais e estrangeiros) pratos diferentes da região donde eles vêem, receitas que façam parte da nossa cultura genuina…é que: um povo sem História é um povo sem cultura! Por isso temos o dever de salvar a nossa cultura genuína, ou seja a nossa História, sobretudo nesta época de pandemia, que ninguém sabe, quando ou como vai parar…

Para terminar faço daqui um apelo a todos os portugueses, a todos os «homens de boa vontade» para que colaborem na salvaguarda do nosso património, os nossos filhos, netos e bisnetos, agradecem, podem ter a certeza!

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