De olho no céu noturno entre as luzes do Natal

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Etemenanki era o nome do zigurate dedicado ao deus Marduque na cidade de Babilónia na Mesopotâmia (atual Iraque), uma torre com sete andares, alegadamente com 91 metros de altura, no cimo da qual ficava o templo dedicado ao deus. É comum considerar-se que possivelmente foi ela que inspirou a história bíblica da Torre de Babel. Os exemplos mais antigos de zigurates datam do final do terceiro milênio a.C. sendo Choga Zambil, construído no século XIII a.C. por Untas Napirisa e localizado perto de Susa, no Irão, um dos mais preservados zigurates do mundo.

Através dos zigurates as divindades ficavam mais perto da humanidade, razão pela qual cada cidade adorava seu próprio deus. Além disso, os zigurates também serviam de depósito de cereais, moradia de governantes, biblioteca, mas sobretudo para a observação do firmamento, que nessa época, com a ausência de poluição da atmosfera por poeiras e pela reflecção da luz das grandes cidades, deveria proporcionar uma visão noturna deslumbrante.

Obviamente que tanto os caudeus da Babilónia, como chineses e egípcios, estes antes daqueles, não elaboraram nenhum conceito astronomicamente científico do universo que mais tarde os gregos haveriam de desenvolver. Mas foram eles quem, pela primeira vez, dividiu o céu em constelações, num contexto geocêntrico que convoca os planetas, o Sol e a Lua, no plano de 18 graus da eclíptica, realidade então desconhecida − a teoria heliocêntrica só viria a ser desenvolvida durante o século III a.C., através de observações do astrônomo grego Aristarco de Samos.

O número dessas constelações são treze e o seu conjunto chama-se Zodíaco (signos para os astrólogos que excluem Ofiúco aglutinado por Escorpião e Sagitário.

Na atual astronomia as constelações (88, incluindo as que só se veem no hemisfério Sul) são uma ilusão baseada no desenho imaginário de estrelas e algumas nebulosas aparentemente próximas entre si, posto que as estrelas estão, na verdade, a anos-luz umas das outras e da Terra. É a sua idade distância e tamanho que faz com que sejam observáveis, sendo que a própria visão do universo fora do Sistema Solar também é aparente, visto que a luz que chega dele até nós, já partiu das fontes há muito tempo.

Mesmo assim é com base nas constelações que o OAL (Observatório Astronómico de Lisboa) disponibiliza no início de cada mês no seu site o mapa do céu noturno correspondente, para os planetas visíveis a olho nu, tendo em conta a distância e a diferente velocidade dos seus deslocamentos orbitais em torno do Sol, relativamente à translação da Terra – 365,3 dias.
Após o acerto da hora e agora que as noites são mais longas e o dia escurece logo a seguir à saída da escola ou do trabalho, é a oportunidade de olhar para cima e dar uma espreitadela no céu. Assim, este mês, se as nuvens lhe permitirem olhar o horizonte a Sudoeste por volta das 19:00 vai ainda conseguir observar Júpiter que foi rei celeste todo o verão. O planeta será visível na constelação de Ofiúco, movendo-se para Sagitário. A sua magnitude ao longo do mês varia de -1,9 a -1,8. Magnitude é o brilho de um astro e mede-se em números relativos. Quanto menor, maior o seu brilho. Significa, então, que a luminosidade de Júpiter diminuirá ao longo do mês. Um pouco para dentro é ainda possível observar-se Saturno na constelação de Sagitário. A sua magnitude é de 0,6. Na mesma área celeste e, à medida que Júpiter vai imergindo no horizonte, há de surgir cada vez mais cedo e mais alto, o planeta Vénus assumindo o estatuto popular de «Estrela da Tarde», com a sua magnitude de -3,7.

Para os madrugadores (6:00) o céu oferece Marte na constelação de Virgem. A sua tonalidade avermelhada auxiliará a sua identificação. Encontra-se na direção Sudeste. A sua magnitude ao longo do mês varia de 1,8 a 1,7.

A meio da noite reinarão as estrelas. Sírios (-1,44), será o astro que mais se destacará depois da Lua. Brilhará a Sul para um observador em Portugal. Com mais cinco corpos celestes formará o conhecido hexágono de inverno, em cujo vértice a N brilhará Capella (0,08), a quarta estrela mais luminosa do céu de dezembro, a seguir a Arcturus e Vega.

Fontes: A.R. George, “The Tower of Babel; OAL (Observatório Astronómico de Lisboa)

N.D. – Bem-vindo “à casa paterna” — é nossa grande congratulação pelo regresso deste também nosso pródigo colaborador.

Jorge Leitão

Foto: Dreamtime

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