É bom ter amigos

Aníbal Alcino
Aníbal Alcino

Eu moro na periferia da cidade de Viana do castelo, na rua a que se dá o nome de Alberto de Sousa que foi, como sabem, um destacado pintor de aguarelas, quase todas inspiradas nos trajes dos ranchos regionais de Viana e Alto Minho.
Teve alturas em que foi muito aplaudido pelos seus trabalhos artísticos – e vendeu tudo quanto produziu. Mas quando saio, de manhã, da cozinha da minha casa, vejo um parque verdejante – (um microclima) – com alguns belíssimos pinheiros e, um parque infantil, onde vão brincar muitas crianças das freguesias de Monserrate e Areosa…
Na parte da frente, à saída do meu edifício, deparo com uma casa rústica, cheia de variadas árvores frondosas, onde se acolhem galinhas, penicando na terra, e um pombal, onde as aves esvoaçam, alegremente, a cumprimentar-nos; a mim e aos vizinhos da localidade, onde um portão de chapa, pintada de vermelho, diz “HAITI” (?) porquê? – não sei! É curioso!…
O meu apartamento é rodeado de sol, e tem um clima de atmosfera indescritível.
Sinto-me um privilegiado. Respiro melhor! Percorro, a pé, toda a rua até ao Café do Estudante, e vou ler o Jornal de Notícias ou a “Bola”, nas calmas.
Cumprimento de mão toda a gente e toda a gente me dá os bons dias…
Ao ler o que vem escrito nos periódicos, fico sempre triste, porque as páginas estão cheias de acontecimentos políticos – (nacionais e estrangeiros) – que ferem a minha sensibilidade e até me chocam…
São roubos – (Tancos); Incêndios horríveis – (Pedro-gão); Crianças e adultos – mulheres e homens – em barcos de borracha, a morrerem, de frio e de fome, afogados no Mediterrâneo; São as questões do México, com as paupérrimas famílias a lutarem por um abrigo na América, impossível de escalar, com muros altíssimos, de arame farpado, carregado de eletricidade…; É o “trump” a semear terror e ódio por tudo quanto é sítio – da Europa, à Ásia e sei lá onde mais; É o que se está, agora, a passar no Brasil e as dúvidas e questões do “Brexit”, na Inglaterra, e alhear-se de tudo o que se passa no nosso planeta… é confrangedor!; São os assaltos a casais de “velhinhos”, mesmo nas ruas, para as roubar violentamente.
Eu sei lá!? – às vezes apetece-me desligar a televisão e a rádio… Valha-nos a música e os seus festivais de carácter cultural.
De tarde vou à Praça da República e percorro as livrarias mais próximas; as exposições de pintura, “porcelana” e “cerâmica”. Passo por antigos alunas e alunos que são, hoje, professores, enfermeiros ou mesmo, funcionários bancários e administrativos e me fazem parar, na rua, a sorrir-me e a darem-me beijos na face…
– Serei merecedor disso? … – a luz, o ambiente citadino, o rio, o jardim marginal, encostado às águas do Lima, os clientes da Farmácia Simões, nos quais, alguns me perguntam pela saúde e me acarinham constantemente…
Penso que em relação a milhões de habitantes da Eu-ropa – de África, da China e até da Rússia, estou a beneficiar de uma cidade que é maravilhosa – tem tudo: Rio – Mar – Montanha – Serra.

“Abaixa-te ó Serra d`Arga
Que eu quero ver São Lourenço
Quero ver o meu amor
Quero acenar-lhe com o lenço”.

Até este lirismo, do Pedro Homem de Melo, só é possível para quem viveu em Afife.
Mas eu merecerei isto? – Há uma amiga, no Porto, mais propriamente, em Vila Nova de Gaia, a “Belinha”, que me telefona a dizer-me que espera, por todas as quintas feiras, a fim de ler as minhas crónicas no “A Aurora do Lima”.
Mas há outros e outros que me chegam a escrever e a telefonar como a excelente e antiga mestra da Formação Feminina, D. Laura Marinho, o Arquiteto Carvalho Dias e, ultimamente, o amigo e Senhor Brásio que não vejo “Prá tantos anos”…
Há dias o Padre Belo, sempre a sorrir, diz-me: Tenho muita consideração por si. Deu-me um abraço e remata: – Vá com Deus!
Fiquei muito sensibilizado.
Mas tudo isto é uma ilusão. – “Um dia o homem verifica que a sua vida assenta sobre nada!…, isto é, um dia poderá ser só ossos ou cinzas”.

Para finalizar vou-vos transcrever um provérbio árabe:
“Não digas tudo o que sabes
Não faças tudo o que podes
Não acredites em tudo o que ouves
Não gastes tudo o que tens

Porque:
Quem diz tudo o que sabe
Quem faz tudo o que pode
Quem acredita em tudo o que ouve
Quem gasta tudo o que tem
Muitas vezes,
Diz o que não convém
Faz o que não vê
Gasta o que não pode”.

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