É em liberdade que se aperfeiçoam as sociedades

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Em dezembro de 2016 escrevi: “O ser humano é muito contraditório. Pode mesmo dizer-se que profundamente contraditório. Como é possível que o povo americano, depois de eleger um presidente de cor, simpático, cordial, amigo do mundo, das pessoas, da paz, da natureza e preocupado com os pobres (criou um sistema de saúde para mais de 20 milhões de americanos abandonados), como é possível, dizia, que tenham agora eleito um personagem tresloucado, que pode arrastar o mundo para o pior, que deixou a população mundial em estado de choque e que, no mínimo, pode baralhar todos os entendimentos possíveis entre as nações, à luz de novas evidências e de profundas alterações na economia do planeta que habitamos. Os que vêm o mundo na base da dicotomia socialismo/imperialismo ou progresso/conservadorismo dirão que Obama não passou de um produto suavizado do americanismo protagonista de todos os males das sociedades.

Mas o mundo teve tantas e tão profundas alterações que, pensado como há décadas atrás, obriga-nos a cometer as mais evidentes idiotices. Obama, no colete-de-forças a que esteve submetido por todos os poderes da América economicamente liberal, foi um grande Presidente, e deixa-nos um legado que a história irá provar que foi grandioso”.

Não sou analista, futurólogo e muito menos profeta, porque nestes nem acredito. Sou apenas um cidadão preocupado, que tento, o melhor que sei, compreender o mundo e deixar os alertas que me parecem convenientes. Por vezes engano-me (quem não se engana) nas considerações que vou tecendo, mesmo jogando pelo seguro, mas, infelizmente, tantas vezes lá acontece o que mais temo.

Tomara ter-me enganado no que pensei e que previa em relação ao sucessor de Obama. E sobre as desgraças deste bizarro personagem, ainda há pouco escrevi: “nestes últimos quatro anos o mundo tornou-se menos respeitável, mais inseguro e pior habitável”.

Também não me surpreende que ele há dias tentasse um golpe de estado pela via insurrecional, para assim se perpetuar no poder na considerada mais firme democracia do mundo. Surpreendidos, se é que ficaram, pode ter acontecido com aqueles que o toleraram, o justificaram e lhe bateram palmas, como o tão propalado historiador e colunista do Observador, Rui Ramos, que a 2/10/20 escreveu: “porque não podem preferir Trump, sem se desonrarem, aqueles que querem uma América diferente da que Biden propõe? A histeria anti-Trump é uma maneira de a esquerda tentar limitar a escolha política”. Colunistas desta estirpe, com as análises que fazem, bem podem limpar as mãos à parede.

O que acaba de acontecer mostra-nos que não pode haver contemplações com quem se limita a aproveitar as falhas das sociedades democráticas, tolerantes e respeitadoras do direito. Os pontos fracos das sociedades livres, que sempre os haverá, colmatam-se em liberdade. O resto são tentativas de ressuscitar estados totalitários. E isso já tivemos durante 48 anos.

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