E que culpa tem Pedro Homem de Mello?

António Barros Lopes
António Barros Lopes

No passado dia 14 de Agosto, tive a oportunidade de participar na inauguração da exposição de pintura Mariana Homem de Mello, neta do poeta, na Fundação Caixa Agrícola, à rua de Aveiro. Em conluio com a Mariana, recriei dois textos de Pedro Homem de Mello, CANTAR DO NORTE e O CANTADOR DE MAZEDO, acompanhado pela Amabélia da Chazinha e o Joaquim do Penedo, de Gondarém.

Não necessitando, Mariana, da muleta de seu avô Pedro para se afirmar como pintora, o HAVEMOS DE IR A VIANA do Poeta, mote para a exposição, sempre se justificaria. Mariana pintora, neta do Poeta, veio mesmo a Viana, expor a sua obra.

Tive a oportunidade de justificar a nossa presença no evento socorrendo-me da informação sobre o Convento de Cabanas dada por Avelino Ramos Meira, na sua Monografia de Afife (1945). O que me serviu para, ao mesmo tempo, destacar um pormenor que nunca vi tratado antes:
– Viana, toda a região, todos nós tivemos muita sorte em ter tido na nossa convivência Pedro Homem de Mello. Vejamos: o Convento de Cabanas foi arrematado pelo General Luiz do Rego aquando do regabofe da venda do espólio dos Frades confiscado pelo liberalismo.

Depois passou para a sua filha, D. Maria Emília do Rego. Por morte ficou para o seu segundo marido, Dr. Tomaz de Aquino Martin da Cruz, que casou, em segundas núpcias, com Dona Januária do Nascimento. Esta, por morte do marido, tornou-se proprietária do convento. Casou, depois, com um espanhol que também se finou e Dona Januária casou, então, com João Bezerra, da Casa dos Cortiços, em Afife, que por ser o terceiro marido de Dona Januária passou a ser conhecido por «João III».

Por fim, estes últimos venderam, em 1897, o Convento de Cabanas ao Conselheiro Cunha e Pimentel, de Provesende, que fora Governador Civil do Porto. Este, por sua vez, viu a sua Filha D. Maria do Pilar casar com António Homem de Mello de Águeda (O Toy, companheiro, em Coimbra, de António Nobre e de Alberto Oliveira) que mais tarde passaram a proprietários do Convento.

Este casal teve quatro filhos entre os quais Pedro Homem de Mello que acabaria por herdar o Convento.

Ou seja, Pedro Homem de Melo só aparece ligado a Afife pela simples razão de seu avô Cunha Pimentel ter adquirido o Convento de Cabanas. Não tivesse o Conselheiro comprado a propriedade muito improvavelmente Pedro Homem de Mello se envolveria com esta região como se envolveu.

Nasceria no Porto. Frequentaria Águeda e Provezende. Seria Poeta na mesma. Escreveria o mesmo “Povo que Lavas no Rio”. Provavelmente não seria o do Rio de Cabanas, em Afife. Seria o do Rio Águeda ou de qualquer outro em terras transmontanas. Assim, o Dr. Pedro aparece em Afife desde os primórdios em que vinha passar os seus tempos livres na propriedade de seu avô em Afife. E se não fora esse simples facto, teria privado Viana, Areosa, Carreço, Afife, Santa Marta, Montaria, Dem, Serra d’Arga, Peneda … da companhia, partilha e envolvimento de Dr. Pedro com a nossa gente. E de todo o testemunho poético legado, consequente desse convívio.

Não chegaria a Gondarém, onde encontrou o motivo das cantorias da minha intervenção que não são afinal nada mais que a recriação do que o Poeta cantara com os cinco de Gondarém, Tio Benigno, Cândida do Guilhadas, Leandro do Milé, Artemisa do Penedo e o Patêgo, gravado em 45 rotações da “Alvorada” por volta de 1965. Acompanhado agora pelo sobrinho da Artemiza, Joaquim do Penedo, e sua esposa Amabélia, que, por sua vez, fizera as vozes de um segundo disco, dos de Gondarém, que Pedro Homem de Mello promoveu já nos anos 70 (salvo erro).

Pela visibilidade que Dr. Pedro deu ao Alto Minho, esta região muito deve àquele que era tido como uma figura patusca e cintilante, com a “mania de exacerbar”, com o seu vozeirão, a alma de um povo que na tese de um certo antropólogo, apenas existiu no delírio do Poeta. A minha é precisamente o contrário. Esse tal povo existiria sempre, quer Pedro chegasse cá, ou não. Sorte tivemos nós, em ter o Pedro Homem de Mello que, pela conjugação da vida com a compra de uma propriedade, conviveu com um povo que, e com quem, tanto cantou!

Bem, mas as coisas não são bem assim como as contei até aqui.
O historiador Antunes de Abreu, nos seus Ensaios III para a História de Viana (Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2007) e reportando-se a um escrito seu de 1994, informa na página 384:

“(…) Pedro Homem de Mello foi um apaixonado por Viana do Castelo, desde que aí viu o sol brincando até ao momento em que se punha. Fixando-se em Cabanas, Afife, gastou o verão de 1939 a decorar poeticamente o convento abandonado que comprou e onde se fixou!”

– Então em que é que ficamos???
– Foi Pedro Homem de Melo que comprou a Quinta de Cabanas?!
Mas os factos, muito bem relatados por Avelino Ramos Meira, são de tal maneira resplandecentes, que nem admitem qualquer especulação interpretativa. E, por isso, nem sequer é necessário o contributo do badamerdas do Tone do Moleiro Novo, para esclarecer o assunto!!!

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