Feminismo radical

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Não é minha pretensão, nem de perto nem de longe, entrar nas profundezas das teorias sobre o feminismo, mas tão-somente abordar pela rama alguns aspectos que se nos deparam no nosso quotidiano. Antes, porém, julgo oportuno referir que o feminismo é, grosso modo, na sua essência, um movimento que visa a igualdade de direitos entre homens e mulheres nas sociedades, onde a supremacia masculina foi, e ainda prevalece em muitos casos, sempre uma realidade. Assumido assim, não deixa de ser positivo.

Contudo, e para que fique claro, não defendo o feminismo naquilo que são todas as suas componentes ideológicas, sou defensor da igualdade de direitos com os homens, embora, pela sua fisiologia muito particular, considere que as mulheres devam afastar-se de determinadas profissões onde é grande a exigência de esforços físicos, já que os seus corpos, mais frágeis, não estão — salvo algumas excepções — dotados da força muscular necessária, que é mais exuberante no homem. Desde logo, porque a mulher nasceu programada para poder gerar filhos, trazendo-lhe naturais limitações e desgaste, o que, levando em conta outras condicionantes próprias do sexo feminino, não lhe confere aquela disponibilidade muitas vezes exigível.
Com isto a mulher não fica diminuída, mas antes se dignifica, porque a mulher nasceu para ser delicadamente feminina e deve orgulhar-se disso. Nas questões do trabalho, é justo que mulheres e homens tenham salários iguais, desde que desempenhem as mesmas funções, o que pressupõe competência e não o facto de se ser homem ou mulher. E é positivo verificar que as mulheres vêm ocupando lugares de relevo na administração do Estado e nas empresas, acreditando que isso acontece porque são, de facto, competentes, e não devido a estratagemas marginais. Estratagemas que, na verdade, têm vindo a ser muitas vezes valorizados, em detrimento dos valores da ética de procedimentos e do génio.

Desejaria, também, evidenciar a minha discordância em relação àquilo a que se chama paridade, que determina um número igual de mulheres e homens em organismos do Estado e outros, designadamente em lugares de topo.

Penso que a legislação é redutora e traduz mais um atestado de menoridade do que de elevação ou de justiça passado à mulher. É que tanto a mulher como o homem devem ser escolhidos, como atrás se referiu, com base na sua competência, o que implica o domínio completo de muitas e variadas matérias, e não oferecer um alto cargo só pelo facto de ser mulher. As preocupações dos partidos políticos em elaborarem as suas listas para os diversos órgãos internos e de representatividade externa são, amiúde, exemplos de verdadeiros pesadelos por causa dessa famigerada lei da paridade, onde nem sempre poderão ter lugar as pessoas com mais capacidades. Se isto representa uma cedência ao feminismo, trata-se de uma infeliz medida política, porque a mulher merece mais dignidade pelos valores e capacidades que encerra do que pelo simples facto de ser mulher.

Vê-se aí, pela cidade, inscrições nas paredes relativas ao feminismo, exaltando desejos inflamados de toda a ordem, e outras atacando o machismo. Não concordando com tais exageros, admito, no entanto, que é a liberdade de expressão a funcionar em toda a sua plenitude, que a democracia concede. Todavia, as atitudes radicais mais não representam do que uma explosão de sentimentos abafados, neste clima de libertinagem e aceitação generalizada que se instalou na sociedade e que, na minha opinião, não a enobrece, mas antes a torna decadente.
A facilidade e a rapidez com que se legalizaram os casamentos de indivíduos do mesmo sexo suscita questões sérias em relação, sobretudo, à família. Como será a sociedade num futuro próximo, sem uma identidade histórico-familiar, em que crianças adoptadas têm dois pais ou duas mães? Manter-se-ão, ainda, alguns valores éticos e morais ou será o sexo que, enfim, dominará tudo? Seremos um país de gouxas ou gueixas, onde indivíduos nascidos com o sexo masculino se efeminaram e clamam orgulhosamente pelos maridos, ou de mulheres que se casam com outras, masculinizadas? Creio que este tipo de sociedade que vai crescendo deixou-se influenciar rapidamente por um feminismo radicalizado, apoiado por grupelhos muito politizados da extrema-esquerda, em oposição ao fim para o qual Deus nos criou.

Ao defender a liberdade sexual total e dos direitos reprodutivos, assim como a promoção de grupos disfuncionais com a sedução por uma enganadora importância social, o feminismo acabou por se enredar em absurdos racionalismos, chegando ao ponto de considerar que o masculino e o feminino não passam de meras construções socais, podendo as pessoas identificarem-se com aquilo que desejam.

Foi Dostoievsky que disse que “Se Deus não existe, então tudo é permitido”. Mas, porque acredito firmemente na existência de Deus, que nos criou homens e mulheres, cada um com o seu desígnio, entendo que nem tudo deve ser permitido e por isso só posso expressar a minha discordância por este feminismo radical instalado, que, como um contágio viral, acaba por lançar a mulher no mais profundo estado de servidão.

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