Há luvas e luvas

Antero Sampaio
Antero Sampaio

Segundo a Wikipédia, a origem da palava “luvas” remete-nos ao Cristianismo, dizendo-nos que que, no século XVIII, durante as Procissões, o andor com a imagem de Cristo carregado pelos Fiéis obrigava estes a trazer luvas nas mãos. As luvas eram fornecidas pela Igreja, que cobrava uma pequena importância aos crentes que desejavam carregar o andor!

Com o andar dos tempos, as luvas tornaram-se numa recompensa dada a uma pessoa que prestou um serviço ou facilitou certo negócio a outrem. Assim, as “luvas”, são uma terminologia usada em economia, para designar um devido montante, às vezes milhares de euros, pagos a uma pessoa bem instalada nos centros de poder em troca de um favor, uma cunha capaz de desbloquear um financiamento ou um projeto urbanístico de grande dimensão. É claro que este procedimento, embora censurável, tem permitido que a indústria de construção não esteja parada, proporcionando muitos postos de trabalho, saída de materiais, em todo o País, etc.

Por isso, eu não me admiro de ver nos jornais notícias como: “luvas de cem mil euros para autarca e deputado”. Se estudarmos bem a Fundação do Condado Portucalense pelo jovem D. Afonso Henriques, creio, até, que ele, para a conquista de Santarém e de Lisboa, não foi muito “honesto” com os mouros e com os cruzados que se dirigiam à Terra Santa. No primeiro caso, quebrou as tréguas combinadas. Em Lisboa, como não tinha dinheiro para pagar aos Cruzados, permitiu o saque da cidade. 

Conclusão: o compadrio, a cunha, a lei do mais forte vêm dos tempos da nossa história. Julgo, então, que pretender modificar este estado de coisas vai encontrar muitas dificuldades, já que o ADN do nosso 1º Rei corre nas veias dos ricos e poderosos, que controlam a seu bel-prazer a economia deste País. E se prendem um corrupto, político ou não, logo nasce outro para ocupar o seu lugar.

É correto, então, desistir do combate à corrupção, ao compadrio e às luvas? É evidente que não. Mas que vai levar tempo a limpar o país desta praga, lá isso vai. Mãos à obra, então…

Já agora, por mim, porque está frio, apenas uso luvas nas mãos…

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