Habitats e migrações

Carlo F. Sampaio
Carlo F. Sampaio

Sim, existe um animal chamado ser humano, a mesma espécie em vários continentes e latitudes; sim, teoricamente tem direitos universalmente reconhecidos, independentemente da raça, credo, género, etc.; sim, ele pode viajar e migrar pelo planeta; sim, mas… também possui uma dimensão cultural e social que não é igual em todo o mundo, nem pode ser ignorada.

Com maior ou menor dependência, com maior ou menor facilidade de adaptação, todos temos um habitat sócio – cultural específico onde estamos integrados. Cada qual e cada um, imagine-se deslocado para as estepes da Ásia Interior e pense se seria feliz a viver aí para o resto da sua vida. Não somos todos iguais, não reagiríamos todos da mesma forma, mas uma larga maioria, certamente, não se sentiria “em casa”.

Migrações. Há que distinguir o contexto temporário, sequência de uma guerra ou catástrofe natural, da situação definitiva. Por muita compaixão que tenhamos por quem vive mal, e devemos tê-la e mobilizarmo-nos para melhorar a vida de todos os seres humanos, um ser humano não pode ser encarado como um infeliz animal abandonado, do qual temos pena e que trazemos para casa. E não pode sê-lo por várias razões. A primeira é existir uma enorme probabilidade de ele não se sentir feliz num habitat, eventualmente materialmente melhor e mais seguro, mas diferente do seu original. Os problemas que se vivem nas “comunidades” por essa Europa fora, têm muito a ver com isto, apesar de todos os esforços de integração realizados. Não pode ser feito em grande escala, porque isso equivale a retirar recursos aos seus locais de origem e empobrece-los adicionalmente. E também porque uma chegada massiva altera o habitat destino, tornando-o estranho para todos, os que chegam e os que lá estavam. Não confundir com xenofobia.

Os nossos habitats evoluem, mas, uma vez mais de forma variável conforme cada qual e cada um, essa mudança tem uma velocidade limite aceitável e integrável. Se for demasiada rápida, será vista como uma rutura de referência. Isto não é xenofobismo.

A missão e obrigação de melhorar sustentavelmente a sorte dos mais desfavorecidos deste planeta não passa por trazê-los todos para nossa casa.

Carlos Sampaio (Foto: Jornal do Luxemburgo)

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.