III – EM PROL DA LÍNGUA E DA CULTURA PORTUGUESA

José Teixeira Cruz
José Teixeira Cruz

3 – Apreciação sucinta da expansão da língua portuguesa e sua situação atual

São várias as tradições populares em Portugal. Há festas e romarias em todo o país. Mas qual é a origem da língua portuguesa que usamos, quer a nível popular, quer a nível científico, negocial ou outro?
Há muita literatura sobre este assunto que não vamos aqui desenvolver. Neste artigo de jornal, limitado, portanto, ao espaço disponível, vamos abordar, sucintamente, alguns aspetos que nos parecem de interesse.
A língua portuguesa é falada em todos os continentes, sendo o idioma oficial de mais de 270 milhões de pessoas em todo o mundo, com tendência de maior crescimento, prevendo-se mais de 350 milhões de falantes em 2050. É uma língua neolatina, também chamada românica, que recebeu o latim dos romanos. Antes da ocupação romana da Península Ibérica (século III a.C.), eram faladas outras línguas, como o ibero, o celta, assim como línguas dos cartagineses, dos fenícios e dos tartéssios. Após a dominação romana invadiram a Península Ibérica os vândalos, os suevos, os alanos, os visigodos e depois os muçulmanos em 711, que deixaram marcas culturais e linguísticas. Havia diferenças na língua em várias regiões da península, como o galaico-português, o castelhano, o leonês e a catalã. Na região galaico-português, a língua portuguesa vai-se automatizando. Fixada a fronteira política no Minho, a reconquista portuguesa segue a direção do Sul, seguindo-se a expansão ultramarina que atrai todas as classes sociais, enquanto a Galiza, sem independência política, torna-se mais permeável à língua castelhana como língua nacional,
No final do século XIII, no reinado de Diniz, é adotada a língua portuguesa nos documentos oficiais, em substituição do latim. Como documentos mais antigos em português são conhecidos a “Notícia do Torto” e o “testamento de Afonso II” em 1214. Há também quem inclua a “Notícia dos Fiadores” (1175), que é um texto com expressões em latim, numerais e palavras aportuguesadas.

3.1 – A Expansão Marítima e o Renascimento

A Expansão Marítima e o Renascimento influenciaram a língua portuguesa. Portugal entra em contacto com diversos povos com línguas e culturas próprias, alargando o seu léxico com a receção de palavras africanas (inhames, missanga, cachaça, cachimbo, senzala…), orientais (mandarim, biombo, andor, bambu, banzé…) e brasileiras (maracujá, ananás, banana, capim, caju, pitanga, …) Com o Renascimento são recuperadas as línguas e culturas da antiguidade greco-latina, que entram na língua portuguesa através de autores, como Luiz de Camões e João de Barros. São vários os latinismos (orbe, lácteo…) e helenismos (ode, átomo, epopeia, …) que enriquecem a língua portuguesa. O português contemporâneo (século XIX até ao presente) herda as estruturas lexicais anteriores, integrando termos técnicos e científicos como televisão, oftalmologia, etc., e tornando-se mais recetivo à influência do francês (bisturi, cassete, …) e do inglês (futebol, scanner…), sobretudo nas áreas da ciência, da tecnologia e do espetáculo.
A língua portuguesa foi a primeira língua mundial europeia antes da francesa no século XVIII e do inglês no século XIX. Portugal foi o primeiro país europeu a alargar as suas fronteiras fora do continente. O Português foi durante perto de trezentos anos a língua de comunicação internacional. O seu uso, sobretudo ao longo dos litorais africanos e asiáticos nos séculos XVI, XVII e XVIII, ajudava nas trocas comerciais e na propagação da religião cristã. Os Portugueses dispersaram-se pelo mundo e em seu lugar entram no Reino pessoas naturais de África. Garcia de Resende (1470-1536) refere-se a esta situação na sua Miscelânea (pág. 67): «…vemos no reio meter / tantos cativos, crescer, / e irem-se os naturais / que, se assi for, serão mais / eles que nós, a meu ver».
Os contactos estabelecidos com novas civilizações e culturas revelam-se na literatura portuguesa, como é testemunho Gil Vicente (c. 1465- c. 1553), aparecendo, por vezes, figuras africanas nas suas peças. Em meados do século XVI, chegou a haver em Lisboa cerca de 10 000 africanos.
Os povos que seguiram as peugadas dos portugueses na expansão ultramarina tiveram necessidade de se socorrer da língua portuguesa para se fazerem entender, conforme comprovam várias fontes, mesmo de não portugueses. Propagava-se a ideia de que era fácil aprender português. O governador-geral da Batávia (1649) explicava aos diretores da Companhia Holandesa das Índias Orientais que a língua portuguesa é uma língua fácil de falar e de aprender (Confª. A Língua Portuguesa no Mundo – Alexandre A. Costa Luís, págs.22). O Prof. António da Silva Rego, de que tive a honra de ter sido seu aluno, divulgou na Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente, Índia, Vol. III, págs. 167, a passagem de uma carta de São Francisco Xavier, escrita em 1545, em que mostra quanto a língua portuguesa estava difundida no Oriente, referindo-se à hipótese de alguns estrangeiros virem da Companhia de Jesus «que não saben falar portugues, hé necessário que aprendan a falar, porque do outro jeto não haverá topaz que os entenda».

Continua

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