“José Maria”? “Jacinto”? “Zé Fernandes”?

Nunabre
Nunabre

Perguntar qual destes três nomes próprios assenta mais e melhor no escritor Eça de Queirós (1845 -1900) poderá parecer estranho a alguns professores e alunos, mas certamente não a todos. Subjacente à pergunta poderá estar algum fundamento razoável.

Tal estranheza, porém, dissipar-se-á após as considerações que vou fazer de seguida. Afinal, o nome próprio de Eça de Queirós era apenas “José Maria” . No entanto, não podemos nem devemos esquecer que em qual­quer obra de Poesia ou Prosa o seu autor está, velada ou notoriamente, presente nas atitudes e palavras das “personagens” que ele escolhera e pu­sera a falar…

Assim, quem ler “A Cidade e as Serras” (um hino à vida simples e salutar das aldeias rurais) e atentar bem nas personagens “Jacinto” e “Zé Fernandes” , sem grande esforço compreenderá que um e outro são faces complementares e não contraditórias nem incompatíveis do mesmo “José Maria”…

Na verdade, este, nascido na Póvoa de Varzim, crescido e educado numa zona rural de Aveiro, foi também estudante na Universidade de Coimbra, Advogado em Lisboa, Administrador de Leiria , Diplomata em Havana, Bristol, Paris (onde faleceu), casado com a irmã do “Conde de Resende”, com quem herdou propriedades em Tormes e Baião (onde repousam seus restos mortais, vindos de Paris)… Como qualquer Português autên­tico, também ele, no decurso irregular de tempos e circunstâncias de vida, experimentou a serenidade amena da aldeia, bem como o bulício e sedução de cidades e metrópoles… Os prós e contras das duas vivências podem crescer ou diminuir, de harmonia, com as circunstâncias de idade e desilusões… Pensemos nas derradeiras impressões de vida de: Bocage, Garret, Antero, Junqueiro… Tantos encantamentos, terminados em decepções…!

Então, não repugna que a pessoa de “José Maria” se projectasse também em “Jacinto” (faustoso, viajado, culto, civilizado) e em “Zé Fernandes? (apreciador do bucolismo, simplicidade da vida campestre, convívio aldeão)…

Experiências e vivências diferentes, mas ambas valiosas…!
Agora vês, prezado Leitor, como não é disparatada a interrogação que formulei no início desta crónica. Eça de Queirós viveu e apreciou os dois mundos; qual dos dois teria ele apreciado mais!?…

Conclusão: saibamos e queiramos selecionar boas-leituras de autores portugueses e extrair delas toda a seiva nutritiva que elas fazem dimanar…… Ler com olhos, mas também com Razão analista…!

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