Mal-estar nas forças de segurança

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Com o aproximar das eleições legislativas, já se encara como normal a contestação social no país, quer porque subsistem problemas não resolvidos nesta legislatura, e são bastantes, quer porque vão surgindo outros, ou não se encontrasse a sociedade num processo dinâmico evolutivo a reclamar cada vez mais atenção das autoridades.

Daquilo a que vimos assistindo, e no momento em que escrevo estas linhas, causa-me especial preocupação a forma como são tratados os agentes policiais, designadamente da GNR e PSP, sempre sob o olhar crítico e acusador de organizações ditas de defesa dos direitos humanos, de alguns tribunais, de comunidades ainda não completamente integradas na nossa cultura e de uma certa imprensa e comentadores sem qualificação.

Uma sociedade multirracial como a nossa, em que se misturam interesses e comportamentos disfuncionais que facilmente descambam em conflitos, gerando insegurança, nomeadamente nas grandes cidades e arredores, necessita de forças policiais bem preparados e musculados para enfrentarem a criminalidade e restabelecerem a tranquilidade pública.

Chocou-me, recentemente, o facto vindo a público de uma magistrada do Ministério Público (MP) ter arquivado um processo em que os delinquentes agrediram e insultaram agentes policiais apelidando-os, entre outros insultos, de “filhos da puta”, não agindo contra eles e arquivando o processo. O que significa para os cidadãos que os agentes policiais é que ficaram como os maus da fita e os criminosos os bons, sendo lícito admitir que emergiu desta decisão uma visão declaradamente hostil contra os agentes policiais.

E se acontecesse que um qualquer cidadão insultasse a magistrada com a mesma expressão ofensiva? Teria agido da mesma forma? Certamente que não, porque defenderia a sua honra e a da sua família, o que seria natural. Então os agentes policiais não têm o direito de defender a sua honra, como o fizeram participando o facto e aguardar que fosse feita justiça?
Ser agente policial é uma profissão difícil, incompreendida! Para estes homens e mulheres mal remunerados, que velam todos os dias pela nossa segurança e a quem tanto devemos, não existe compreensão, mas apenas exigência. Não pode haver margem para erro na acção policial, sob pena de rapidamente serem os agentes crucificados na praça pública. Mesmo que sejam agredidos e insultados têm de oferecer a outra face aos criminosos, porque nestes não se pode tocar. Esquece-se de que não existe tranquilidade pública sem a acção altruísta dos agentes das diversas forças de segurança, a quem sempre é exigido o máximo das suas capacidades, mas sem que exista um poder que proteja os agentes, que os valorize, que os compreenda, que os acarinhe e que os defenda.

Num ambiente destes, de desprestígio e de censura da acção policial, em patamares onde não deveria existir, não admira que os sindicatos manifestem o seu desagrado, de formas mais ou menos radicais, como foi o caso ocorrido no dia nacional da PSP, em que os manifestantes viraram simplesmente as costas ao Primeiro Ministro e outras entidades presentes. Não terá sido, porventura, a forma mais adequada, mas interpreta na perfeição o grito de revolta interior contra este ambiente de hostilidade em seu redor.

A legislação penal, ou a sua interpretação por juristas que a aplicam, parece apostar preferencialmente na punição dos polícias e na exaltação dos criminosos, que são tratados com paninhos de lã. Será por isso que aumentaram os suicídios entre os agentes das forças de segurança, que, desde o ano 2000 até 2017, já contam com 137 casos entre GNR e PSP, o que nunca deveria acontecer! É um número dramático que deve fazer pensar todos aqueles e aquelas que gastam o seu tempo a infernizar os agentes que nos defendem. Aos polícias, só pelo facto de o serem, é-lhes vedado terem uma atitude mais ousada no controlo de uma acção violenta, mas os delinquentes podem lançar-lhes as maiores injúrias, ficando impunes. É caso para questionar que país é este, com tal inversão de valores?!

Penso que as organizações que, querendo destacar-se na sociedade, vão pelo caminho mais fácil e populista, dedicando-se a desculpabilizar os delinquentes e a anatemizar os agentes policiais, deveriam, simplesmente, virar a agulha noutro rumo, como por exemplo, ensinar essas pessoas a integrarem-se plenamente na nossa ordem social, ou então fazerem algo pelo ambiente, como seja recolher plásticos nas praias ou beatas de cigarros nas ruas!

Sou contra o politicamente correcto e defendo por inteiro os agentes das forças de segurança, a quem todos muito devemos. Não defendo os exageros, mas defendo a firmeza com que devem actuar, porque o país tem o direito de viver em tranquilidade. A perfeição não existe e, como tal, não se pode esperar que os agentes policiais sejam perfeitos.

Seria uma honra poder participar numa manifestação de apoio às Forças de Segurança do nosso concelho, designadamente GNR e PSP, já que todos nós gostamos de ver reconhecido e elogiado o nosso esforço. É que as pessoas crescem quando são estimuladas no que têm de positivo e sinto que os agentes policiais precisam desse estímulo por parte dos cidadãos.

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