Morrer pela liberdade

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

O assunto passou despercebido, tal como são esquecidos crimes incontáveis que no mundo se vão cometendo. As redes sociais têm grande impacto nas sociedades, mas nem sempre com objetivos bem definidos. Depois, as ações criminosas vão sendo tantas que tendemos a alhearmo-nos delas.

Na Turquia, um país governado por um tiranete capaz das maiores tropelias, um tal Recep Erdoğan, de discursos monocórdicos e idiotas, debitados em pose de rei do mundo, tem a nação a ferro e fogo, procurando adversários em cada canto e deles fazendo inimigos a abater.

Como se trata de uma nação estrategicamente enquadrada e que dá jeito nos jogos de poder de continentes, estados e religiões, vai-se omitindo o que por lá se passa, contemporizando com o crime. É evidente que, como em todas as tiranias, Erdogan não é eterno; e pode até cair bem mais cedo do que julga. Em 2019, em eleições regionais, mesmo manobrando, ameaçando e repetindo atos eleitorais, não evitou sair derrotado nas maiores cidades do país, Ancara (a capital) e Istambul (a maior cidade do país e a quarta do mundo). Os povos, mesmo sob o jugo de carrascos, têm momentos épicos para erguer a bandeira do direito.

Na Turquia desta figura sinistra (com fortes indícios de que simulou um golpe de estado para pôr em marcha uma perseguição banditesca aos seus opositores), a 3 de Abril, depois de 288 dias em greve de fome, morreu Helin Bölek, de origem curda, cantora do Grup Yorum, uma banda musical que apenas deseja cantar livremente. Helin, uma bela jovem de 28 anos, nem sequer teve direito a um funeral digno, porque os milhares de pessoas que faziam o acompanhamento do féretro acabaram perseguidos pela polícia.

Segundo a imprensa, o Grup Yorum existe há 35 anos, sendo formado por dezenas de músicOS, destacando-se por cantar em defesa do direito. Desde 2019, a partir do local em que ensaia, em intervenções das chamadas forças da ordem, cerca de 30 dos seus membros já foram presos. A música, como a arte em geral, promove o incómodo; e os tiranos só conhecem a sua lei e o seu mando, daí que recorram a todo o tipo de iniquidades para se perpetuar no poder.

É assim em boa parte do mundo. E, infelizmente, para muitos povos oprimidos a liberdade leva demasiado tempo a instalar-se. Ditaduras rígidas, políticas geoestratégicas e tantas vezes a indiferença dos povos das democracias muito contribuem para tal. Mas, enquanto se souber que há oprimidos na terra, jamais haverá povos livres. Esquecer os subjugados é pactuar com os opressores.
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