Na Brasileira

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Tornaram-se rotineiros e alegres os passeios pela cidade com Joaquim Terroso, por vezes acompanhados pela família e amigos que vêm até ele.  Terroso teima em não ir à capital. Gosta da cidade, mas adora a pacatez e a lindeza de Viana. Tenta convencer os seus a mudarem-se para a terra onde nasceu, mas quem veio à vida em Lisboa, diz-lhe que tem direitos iguais.

Mas o nosso Joaquim, sempre rendido à velha Aurora – primeiríssimo a levantá-la às quintas feiras, evitando-nos despesas de correio –, estica a corda, faz-se de amuado, diz-se incompreendido, só que ninguém, por mais que dele goste, lhe tem feito as vontades. Mas algo de novo aconteceu. O nosso próximo passeio estava marcado para sábado de manhã, na Brasileira. Depois de degustar um sidónio acompanhado do café, que aqui sempre foram de excelência, disse-nos, faríamos uma visita à Igreja da Matriz, Sé Catedral da Diocese de Viana, desde 3-11-1977, tal como consta dos “Tesouros de Viana”, mais um belo livro editado com a chancela do Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos ENVC, que teve como autor esse brilhante Francisco Carneiro. Pois, e então o que aconteceu, perguntará o leitor? Simples, o nosso amigo Terroso, custosamente para ele, foi obrigado a regressar à capital. Problemas de saúde que, julga, são de importância menor, tal lhe impuseram.

Mas o passeio mantem-se, diz-nos com alguma satisfação, já que o neto Constantino, (lembram-se dele e da vianesa de quem se enamorou?) fez questão de o substituir. – Sabem, o moço está apaixonado e já pensa em ficar em Viana, depois de se consorciarem. Agora acredito na mudança de todos para a minha linda terra. Bem me diziam vocês para ter paciência, e ainda bem que eu vos ouvi. Afinal estava a ver tudo ao contrário. Mas foi por ele não me ter acompanhado e ter-me trocado pela rapariga por quem se embeiçou. Bom, tratem-nos bem, porque os tenho no coração. Dissemos que pedidos dele eram ordens e que não se preocupasse que iria ficar recuperado rapidamente para animar os passeios como ninguém.

Há hora marcada, lá estava o Constantino mais a sua vianesa, a Joana, por quem o moço tinha boas razões para estar enamorado. Acontece é que os jovens não estavam virados para passeios, já que a cultura que pretendiam não era mais que “curtir” o namoro. Ficaram-se pela citação de uma quadra desse brilhante escritor vianense que foi João da Rocha, sobre a Brasileira, inaugurada, ainda em obras, em 1902, por Domingos Amorim Viana e sua esposa D. Sofia Ramos Paz Amorim. Assim consta do livro “709 poesias de reclamo à Casa Brasileira de João da Rocha, recolha, prefácio e notas de Manuel António Couto Viana, edição de 1977, que Constantino fez questão de nos mostrar, mas que já conhecíamos.

Então saia lá a quadra, incitámos. Aqui vai, diz-nos Constantino, perante o sorriso apaixonado da Joana: “Antes que faça uma asneira/Menina que passa perto/Venha à casa Brasileira/que é na Terra um céu aberto”. Alguém na esplanada bateu palmas e constantino corou, de mãos presas às da namorada. Para a semana não duvidamos que teremos visita à Matriz, dissemos-lhes na despedida.

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