Na Quinta da Batoca, homenageando Guerra Junqueiro

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

No dia 11 de junho, pelas 14 horas, foi prestada homenagem à memória de Guerra Junqueiro, na sua adorada Quinta da Batoca (perto de Barca D’Alva), com a apresentação do meu último livro, “GUERRA JUNQUEIRO, DE FREIXO DE ESPADA À CINTA A VIANA DO CASTELO”, que possui 176 páginas, perante as turmas do 9º ano da Escola de Freixo de Espada à Cinta. Estiveram presentes: para além da Senhora Presidente da Câmara Municipal de Freixo, Maria do Céu Quintas; a Senhora Presidente da Fundação Guerra Junqueiro (com sede no Porto), Dr.ª Inês; bem como o Senhor Vereador da Cultura; o Presidente da Assembleia Municipal, Dr. Artur Neto Parra, António Lopes (Sagué), da editora “Lema D’Origem”. Quisemos apresentar o livro, com a vida de Guerra Junqueiro, na sua Quinta da Batoca (por ele comprada), perante os alunos da sua terra e seus diretores de turma, por três razões: Primeiro, porque a juventude é a maior riqueza de qualquer terra, e a ela devemos não só dar a instrução em geral, como também ensinar-lhes a História da sua terra, bem como as figuras que a engrandeceram; Segundo porque Guerra Junqueiro tem sido um pouco “esquecido” em Portugal; Terceiro, porque a Quinta da Batoca era uma sua grande paixão de regressar teluricamente à terra que o viu nascer.

Perante um calor tórrido (perto dos quarenta graus), os promotores da iniciativa, bem como a equipe que os auxiliou, ajudaram os alunos de Freixo de Espada à Cinta, a conhecer melhor o seu Grande Poeta e Homem do seu tempo, chamado Guerra Junqueiro.
Como dissemos, a Quinta da Batoca fica em Barca de Alva e no dizer do, também transmontano, Raul Rêgo: “É nesta Barca de Alva que ele (o Douro) deixa a sua dupla nacionalidade e arremete, inteiro, pelo corpo de Portugal fora, isolando as províncias do Norte1”. Em 1882, Junqueiro concretizou um sonho antigo, comprou a Quinta da Batoca.

Na Quinta empregou o que herdara de sua mãe. A título de curiosidade, diga-se que Guerra Junqueiro comprou esta Quinta (com a Legítima de sua mãe, quando esta faleceu, tinha Guerra Junqueiro 3 anos de idade), já ao nosso Poeta lhe tinham nascido, em Viana do Castelo, as suas duas filhas. A ela se dedicou com toda a paixão de um verdadeiro lavrador duriense, investindo aí muitos capitais e muitos trabalhos e canseiras. O Poeta-Lavrador, a título de exemplo, podemos dizer que aí enterrou os seis contos de reis que lhe rendeu toda a publicação do seu livro “Pátria”, bem como muito dinheiro que lhe renderam outros livros e a venda de bric-à-brac para investir na Batoca. Chegou aqui a ter cento e cinquenta mil videiras (os seus melhores poemas, no dizer do insigne Poeta), um vasto olival e um rico amendoal. Quando aconteceu o “desastre da Batoca”, os seja a filoxera, Guerra Junqueiro muito fez e estudou para combater essa doença da vinha.

Escreveu Manuela de Azevedo: “Olhando as terras que dali avista (da sua casa da Quinta da Batoca), da grande varanda envidraçada, em cujas paredes brancas escreve às vezes pequenas poesias, Junqueiro jura e trejura que viu chegar numa fulgência de oiro o próprio Júpiter em «pessoa». Toda a terra à volta da Batoca brilha do seu brilho. Então, o Deus dos Deuses que lhe parece maior que o Padre Eterno, visto que é mais antigo e sobrevive-lhe, ordena-lhe e ele obedece:
«Abílio, planta nestas terras, que eu te darei o sol para casares com elas»!
O poeta plantou mais vinhas. As vinhas deram mais vinho. Passados tempos, Júpiter voltou e vendo as muitas encostas cobertas de vinhedos, exclamou:
«Bravo Abílio, escreveste o teu melhor livro! São cem mil versos de oiro, estes que daqui estou a ver».
Ao que o Poeta, embevecido e contemplativo, semicerrando os olhos, murmurou:
«Assim o creio!2»…
Sobre este tema, não resisto a transcrever este texto do Poeta:
“Uma manhã, Júpiter
Apareceu-me em Barca D’Alva e disse-me,
Pondo a mão familiarmente no ombro
-“Queres fazer um poema homérico?
Vês esta terra selvagem?
Rasga-a ergue-a de socalcos, planta-a de vinha.
Dar-te-ei o sol para casar com ela!”
Ingénuo e deslumbrado, lancei-me ao trabalho.
Um dia, anos mais tarde, Júpiter voltou.
-“Belas cepas, Abílio!”
-“Cem mil, senhor Júpiter…”
-“Cem mil versos de ouro.
Fizeste o teu melhor livro!3”
E foi desta maneira, fazendo umas libações a Baco, que prestamos esta justa homenagem a Guerra Junqueiro!

1 – Santos, Natália Neves dos, “Raul Rêgo – o Jornalista e o Político”, Poética Edições, Macedo de Cavaleiros.
2 – Manuela de Azevedo, “Guerra Junqueiro a obra e o homem”, páginas 138 e 139, Arcádia Editora, Lisboa, 1981.
3 – Idem e também no folheto “Viajar com…Guerra Junqueiro”, página 28, editado pela Delegação Regional da Cultura do Norte e pela editora Caixotim, Porto, 2003.

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