Não retrocedemos, progredimos

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“Desta vez gostei do texto, mas menos do título. Então o mundo evolui ou retrocede?” Comentário de um leitor a propósito da minha última crónica. De vez em quando, direta ou indiretamente contrariam-me. Gosto do confronto de ideias, particularmente quando neste prevalece a cortesia. O aprofundamento das questões só se faz com debate livre e franco. Se nos julgamos detentores da razão e não valorizamos argumentos de terceiros, tantas vezes meritórios, acabamos a pregar no deserto.

Mas o planeta, tal como disse ao meu interlocutor, progride mesmo. Alguns teimam em querer fazê-lo desandar, especialmente nas relações laborais (era esse o sentido do título da minha última nota), porém a realidade é evidente na questão do crescimento das sociedades. Se queremos fazer uma análise ligeira, basta-nos olhar para o mundo de há 100 anos, ou mesmo de há 50, e fazer um paralelo com o atual, para termos a exata medida de como evoluímos.

Mas se nos situarmos no tempo quase presente, recorrendo à abundante informação de que dispomos, concluiremos que vivemos tempos de progresso, apesar de o continente em que nos inserimos enfrentar algumas dificuldades de carácter social, que muitos não esperavam. Segundo o Banco Mundial, no planeta, a população a dispor de menos de 1,9 dólares por dia, que era de 36,9% em 1990, desceu para 12,7% em 2012. E, nesses 22 anos de referência, na China essa taxa de pobreza passou de quase 67% para 11,2%. Até na África subsariana (situada a sul do Deserto do Saara), a zona mais carecida do globo, a descida foi de 56,8% para 42,7%.

Como se constata por estes escassos indicadores, a humanidade teima em apostar na via evolutiva, já que mais de metade das nações que a compõe conseguiu sair do estado de carência em que estavam mergulhadas. Alguém dirá que os progressos nos países desenvolvidos quase estagnaram, mas também isso não é verdade. O que não houve foi uma evolução na qualidade de vida das suas populações ao ritmo que vinha acontecendo, mas não podemos desejar que as comunidades, no sentido lato, se mantenham eternamente desiguais.

Aqui chegados, só podemos concluir que progredimos insuficientemente, sim, na defesa do planeta e que sacrificamos este para criar bem-estar, mas isso é assunto para comentários futuros. Foi isto que procurei explicar ao cidadão que me abordou e com quem tive um diálogo cortês. Afinal, a escrita e o debate também proporcionam aproximação às pessoas.

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