Natalidade e migrações

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Com referência, especialmente, ao Norte do país, que é a minha região natal, recordo-me de, nos meus tempos de jovem, ver, por todo o lado, tanto os campos cultivados e produtivos, como muitas outras parcelas de terreno onde se alimentavam os animais, e ainda um ambiente onde as pessoas trabalhavam com afinco numa agricultura, fosse ela de subsistência ou com mais desafogo, mas sentindo-se um país em movimento. Nas aldeias que conheci ao longo dos anos as pessoas não tinham tempo a perder e viviam numa azáfama constante, de sol a sol, que lhes permitia satisfazer as necessidades de cada dia. Era o nosso sector primário a funcionar, que dava vida ao país e fornecia os bens alimentares para as vilas e cidades. Era um gosto ver a dedicação das pessoas às suas terras, que cultivavam de forma abnegada, e reencontrá-las depois nas feiras e mercados, vendendo os seus produtos para amealharem alguma poupança para dia mais difíceis. A juventude dava sempre uma tonalidade especial, ouvindo-se gostosamente, aqui e ali, cantigas alegres e populares na dimensão de um hino à vida, à vida sã, própria do ambiente rural!…

Infelizmente, foi um tempo que já desapareceu e que não se repete. A transformação da sociedade permitiu o ganho de rendimentos por outras formas, as aldeias perderam o seu sangue jovem que não foi renovado e a sua ocupação ficou reduzida a uma terceira idade fatigada e desiludida, mas que no passado já fora feliz. Hoje, mete dó ver aldeias completamente abandonadas e campos outrora produtivos reduzidos a mato. Quando passo pela minha aldeia natal e outras vizinhas, sinto que a vida desapareceu destas terras caracterizadas pelo minifúndio, e invade-me uma tristeza imensa.

A democratização introduziu meios e oportunidades para os jovens crescerem culturalmente, e hoje confrontamo-nos com uma doutorite em excesso que o mercado do emprego do país não consegue absorver. Uma grande parte dos jovens, a quem foram oferecidas todas as facilidades, continua a deparar-se com a realidade amarga de sonhos desfeitos. Na verdade, muitos dos nossos e novos “drs”, para subsistirem, têm de ficar atrás de máquinas registadoras na área comercial, ou desempenhando funções no sector secundário não compatíveis com a formação que receberam, sendo mal remunerados e obrigando-os, em muitos casos, continuarem a viver na casa dos pais.

Mas o mais chocante é que esta situação não parece incomodar os políticos e governantes, já que o Estado até se dá ao luxo de pagar a quem não trabalha, alimentando vícios e comportamentos perigosos, em vez de incentivar a cultura do trabalho, criando condições de formação básica e técnica para o exercício de artes e ofícios tão necessários.

Fico atónito ao ouvir os empresários queixarem-se de que faltam milhares de trabalhadores para fábricas, construção civil, turismo e outras actividades industriais, reclamando a necessidade urgente de imigrantes que venham preencher estas necessidades consideradas de extrema gravidade, já que uma parte do tecido empresarial pode mesmo encerrar as suas portas por falta de recursos humanos, algo que nunca se verificou. E isto é tanto mais grave quando é uma realidade que grande parte do que consumimos é importado e com preços em crescendo!

Mas que políticas são estas? Estamos a formar “drs” para dizermos que o país nunca teve uma geração tão culta como a actual, e não há a capacidade de lhes dar emprego adequado à sua formação? Vão-se encerrar empresas por falta de mão-de-obra? Para onde vai este país? Não teria sido preferível apostar no ensino técnico especializado, com Escolas por todo o país, em vez de tantas universidades e politécnicos, algumas destas instituições sem nível e muitos cursos sem saída profissional?

Não sabemos, exactamente, para onde caminha o país e creio mesmo que os problemas se agudizarão em cada dia que passa, isto porque a liberdade é uma conquista que sabe bem usufruí-la, mas que muitos só a usam como exigência de direitos e regalias. Se houvesse nas escolas uma preocupação tão grande em preparar as crianças e jovens para as dificuldades da vida, tal como existe para o sexo e afins, não tenho dúvidas de que Portugal seria mais adulto.

É necessário, sim, que se permita a imigração, mas uma imigração com regras e com conhecimentos profissionais básicos para o desempenho das diversas especialidades dos sectores primário e secundário, com o pagamento de salários justos e de uma segurança no emprego, a começar pelos que já estão. Porém, não deixo de ter dúvidas quanto aos candidatos, muitos deles a sonharem com o enriquecimento fácil através de actividades ilegais, ou outras improdutivas, que só acrescentarão problemas internos.

O grande erro do Estado e de quase todos os governos foi não ter havido a capacidade de estancar a hemorragia da emigração continuada e facilitar o homicídio de crianças nos ventres das suas mães (quantos milhares?…) com o requinte paternalista de ainda suportar todas as despesas de tais actos aberrantes com o dinheiro dos impostos de todos nós, provocando uma descida drástica da taxa de natalidade. O resultado está à vista de todos!…

Com este vanguardismo, acredito que um dia Portugal corre o risco de perder a sua identidade  lusitana, tão grande é a necessidade de importação de mão-de-obra multiétnica, que se pode tornar maioritária. E, ainda, que o país volte à ocupação muçulmana, que fará D. Afonso Henriques levantar-se do túmulo para insultar os políticos e governantes! E não se pense que a ideia de fazer retornar a Ibéria às origens não existe, porque uma certa cultura árabe ainda acredita poder ressuscitar o El Andaluz!

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