Nem tudo são rosas

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

A rosa, enquanto flor da roseira, oferece-nos um perfume suave na sua variedade imensa de cores e de formas, que contribui para melhorar o nosso estado de espírito, sobretudo em momentos de stress. Sucede o mesmo, naturalmente, com outras flores, que espalham no ar uma miscelânea inebriante de aromas, sendo por essa razão que os jardins floridos são sempre apetecíveis e visitados. A nossa vida tornar-se-ia mais suave se o ambiente social fosse, também ele, perfumado, o que raramente se verifica.

No nosso país existe um partido político que, além do punho fechado, adoptou também a rosa como um dos seus símbolos, o que parece algo abusivo, admirando-me, até, como é que os ecologistas, sempre tão atentos, acataram e acatam esta realidade, considerando que a rosa é de todos e não propriedade de alguns. De resto, não seria caso único, recordando que em Viana do Castelo existiu no passado, se bem me lembro, o chamado mês da mimosa, que ocorria em Fevereiro, acabando por desaparecer na bruma do tempo. Isto porque surgiram ecologistas que se insurgiram contra a apropriação do termo mimosa    uma espécie de acácia apreciada pelas suas flores e abundante no território municipal  – para ilustrar uma festa que visava, simplesmente, trazer visitantes à nossa terra e dinamizar a actividade económica. A razão invocada foi que a mimosa é de todos e não de alguns. Como a rosa!

Mas passemos à realidade da rosa da vida na política nacional, que até poderia sugerir uma suavidade na forma de interação social, honrando a ética, a moral e os bons costumes, mas a realidade mostra-se bem diferente, porque nos oferece um substrato rosáceo alterado, exalando um cheiro enjoativo. Os casos políticos protagonizados por membros do partido da rosa oferecem-nos razões mais que suficientes para uma apreciação negativa.

Com efeito, aquilo que poderia ser promissor para muitos cidadãos, ao escolherem o partido da rosa para os abrigar, tornou-se um pesadelo não só para eles próprios, como também para os que optaram por outros ideais, gerando pesadelos, choros e ranger de dentes!… É bem patente o ambiente de crispação social que se vive em todos os sectores da vida nacional, onde abundam os casos de compadrio, mentira, arrogância e incompetência ao nível dos que conduzem os nossos destinos, oferecendo ao mundo a imagem de um país anedótico. O caso TAP é o espelho da governança numa moldura de promiscuidade.

Uma maioria eleita, que parecia artilhada em termos de estabilidade política para resistir às tempestades, veio pôr a nu graves fragilidades intoleráveis num Estado de Direito, deixando os flancos abertos à intrusão dos interesses com graves reflexos no nosso destino colectivo.

Pode o partido da rosa vir cantar pequenas vitórias, com a pretensão de as transformar em grandes sucessos; pode alardear grandes promessas sobre investimentos futuros; pode vangloriar-se da melhoria no nível de vida dos cidadãos. Tudo isso não passa de pura ilusão. O país está mais pobre; cresce a dívida pública; os impostos aumentam; as greves sobem de tom e rebentam com o país em praticamente todos os sectores da sociedade; os investimentos a coberto do PRR mal se vêem e a incompetência de diversos responsáveis políticos é assustadora.

Como entidade suprema que observa este real estado do país, existe outro órgão político que, lá do alto, como a águia, observa tudo isto    sim, porque os problemas não lhe passam ao lado  -, mas parece faltar-lhe o instinto para desferir uma bicada fatal que abra lugar à renovação tão necessária e urgente de um dirigismo político diferente e competente. Talvez seja pela fé em dias melhores, talvez por tacticismo, quiçá para manter uma certa estabilidade. Mas que estabilidade e a que preço? Por muito menos já houve, no passado, quem aplicasse essa receita que, agora, parece justificar-se. E a democracia é isto mesmo, é dar oportunidade a uma alternância de políticas e a um surgimento dos novos intérpretes quando as coisas não andam bem.

Os cidadãos vivem desiludidos com tanta arrogância e tantas broncas, cansados do partido da rosa. Não é preciso ser grande analista para se chegar a esta conclusão, bastando observar a instabilidade crescente no mundo do trabalho e a deterioração dos serviços públicos, como são os casos da Saúde, do Ensino, Justiça, Forças Armadas e outros. Não há dúvidas que o país precisa de um ambiente com novos perfumes, porque o aroma desta rosa evaporou-se e a própria rosa secou, nada mais tendo para oferecer. Falta a esta rosa o substrato da Rosa-de-Jericó, existente nos areais marítimos da Arábia e da Síria, que, mesmo depois de seca, tem a capacidade de reviver.

Concluindo, nem tudo são rosas na vida, e aqueles eleitores que esperavam um país cor-de-rosa ignoraram que não há rosas sem espinhos. Urge, pois, reinterpretar a rosa-dos-ventos para uma navegação rumo ao bem-estar de todos e não só de alguns. Portugal precisa e o povo merece. 

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