No convento ninguém sabe o que vai lá dentro

manuel ribeiro
manuel ribeiro

Pois é: “No convento ninguém sabe o que vai lá dentro”. É mais um ditado popular relativo à vida pouco transparente de padres, freiras e frades, desde tempos ancestrais, sendo que o mais conhecido é o do Frei Tomás, que pregava uma doutrina exigente, mas praticava outra muito diferente.

A história da Igreja Cristã/Católica, quanto às suas práticas, tem muito de bom e outro tanto de mau. Isso é historicamente indiscutível. Para mim, no entanto, tudo isso é aceitável. Como dizia o Papa Francisco: quem sou eu para julgar os outros? E, claro, todos nós poderemos dizer: e quem são os outros para nos julgarem a nós? Pelo menos, de uma maneira leviana. E todos podemos até invocar divindades ou para nos proteger ou para nos guiar a inteligência ou os passos, mas será tudo inútil se ficarmos pelas boas intenções e falharmos nas vontades. Porque as práticas e atitudes dependem exclusivamente de cada um. E só uma norma de conduta estará certa? A antropologia diz-nos que, entre todas as culturas, são poucos os pontos em comum, mas muitos são os divergentes. Ou seja, aquilo que uns acham bem, outros acham mal e assim por diante.

As expressões “sínodo” e “caminho sinodal” têm sido referidas nestas crónicas com alguma frequência, porque o Papa Francisco entendeu, e muito bem, que se deveria escutar todo o povo cristão/católico e demais pessoas “de boa vontade”. E este convite à participação de mais de um bilião de católicos, e das demais pessoas que o desejem, nunca aconteceu na história da Igreja, salvo, talvez, nos seus primórdios, a avaliar pelos escritos existentes e pelos muitos outros que a Providência Divina tem posto a descoberto nos esconderijos sombrios dos desertos da Judeia ou do Egipto (Nag Hamadi, Qumram). 

Na verdade, nesses tempos, a busca do conhecimento e a procura da verdade nos mistérios da vida e da morte era comum e havia sempre quem registasse, por escrito, as dúvidas e inquietações da humanidade. A crueldade sempre existiu, desde que o homem é homem. E com a crueldade, a tirania de toda a espécie. Não admira, pois, que os tiranos perseguissem quem pensasse de maneira diferente. O cristianismo teve um crescimento fulgurante, apesar das cruéis perseguições, que aparecem logo no início. Jesus Cristo era um revolucionário pacífico e inteligente. Diferentemente dos gregos, era um “filósofo” com uma linguagem clara e simples. A sua mensagem era libertadora: todos somos filhos de Deus e iguais entre irmãos. Mas o poder temporal, interesseiro,  logo foi tomando posse desse tesouro valioso, repleto de aceitação e popularidade, e foi invertendo a beleza da mensagem para um amontoado de leis, de disciplinas, de cultos e liturgias que, quais ervas daninhas, tentaram abafar o trigo, a vinha e as flores. 

Chegados ao nosso tempo, é muito importante trabalhar em prol da autêntica mensagem cristã. As pessoas de boa vontade estão felizes por terem a oportunidade de colaborar nessa missão. A humanidade, como se pode concluir nestes tempos de uma estúpida, cobarde, sangrenta e injusta guerra, travada nos confins do oriente europeu, a humanidade – dizia acima – voltou a recear pelo seu fim absoluto.

Ora os grandes problemas e dramas por que passa o cristianismo católico têm de ser resolvidos para que a sua mensagem volte à pureza dos ensinamentos de Jesus Cristo. É melhor que nada, mas ver que, a propósito do caminho sinodal, quase só apareçam uns inquéritos paroquiais que se resumem a auscultar os fiéis sobre os pequenos problemas – eu diria mesmo, insignificantes – nas suas comunidades, deixa muito a desejar. Ter em conta que os sacerdotes católicos ocupam o último lugar da hierarquia eclesial, apenas acima dos leigos, nunca tidos para nada de importante, desde há vários séculos, salvo questões de dinheiro. Os sacerdotes católicos são obrigatoriamente obedientes, submissos e acríticos, em relação a todas as decisões maiores. Porém, os sacerdotes católicos têm o grande mérito de produzirem um significativo trabalho, normalmente com muita dedicação. E por tudo isso eles não podem ser acusados ou culpados por cumprirem as decisões dos superiores, salvo por excesso de zelo pessoal ou de vaidade ou de clericalismo. 

Se os cristãos católicos portugueses querem resultados concretos e indispensáveis na Igreja, comecem, desde já, a debater os pontos que vêm anunciados em reuniões de outros países (na Igreja Católica Alemã, como exemplo primeiro) e por várias individualidades, designadamente portuguesas. É preciso que chegue aos Bispos de todo o mundo e a Roma a mensagem de que nós, ditos leigos, não somos, na atualidade, uma igreja ignorante e submissa, uma comunidade analfabeta e acrítica, um rebanho dócil e estúpido que não sabe distinguir o verdadeiro Pastor. Haja Deus.

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