No tempo dos avós

Leandro Matos
Leandro Matos

Relembro os meus avós com muito afeto e nostalgia. Só conheci o meu avô paterno. Recordo-me dele ainda ativo e transacionando roupa feita nas feiras. Já com alguma idade e dependendo dos dois filhos que o ajudavam. Viveu na casa, já viúvo, com os meus pais e o meu tio. Naquele tempo não existiam lares de idosos nem era usual a palavra lar. A casa, a família, era ainda o aconchego, a ternura dos idosos.

O meu avô veio a falecer tinha eu 11 anos, morreu derivado a uma trombose que lhe tinha dado e algum tempo depois acabou por não resistir. Tinha 60 anos.

Estas coisas foram-me contadas pela minha mãe. No entanto, tinha uma terra com oliveiras, das quais extraía o azeite e noutra vinho e milho, que vendia para pagar as despesas. Além das oliveiras, semeava batatas, tomates, feijão, cebolas e alfaces, o que permitia ter alimento para todos. Recordo-o já deitado na cama, entrevado da trombose que o tinha possuído.

Os clientes dele, pagavam-lhe com feijão, milho e ovos quando negociava nas feiras, num sistema de troca que dispensava o dinheiro. Estávamos no pós-guerra e tudo escasseava. Havia até senhas para trocas!

Depois vendia esses produtos em excesso a outro negociante da aldeia, que, penso eu, os renegociava. Com o meu pai, eram dois irmãos na confeção das roupas.

A minha mãe ajudava e tratava das lides caseiras e já éramos dois ou três irmãos (netos).
Criavam também animais, porcos, para comer ou vender, assim como coelhos e galinhas. A minha mãe fazia e cozia o seu próprio pão broa num forno que ainda há bem pouco tempo existia lá em casa. O meu pai tinha casado bem novo, dado serem apenas três homens a viver naquela casa. Também tinham o seu próprio sustento do que colhiam. Por isso, se a crise existia, era só para quem não trabalhava, porque havia sempre obra na lavoura, cultivando as terras, tratando dos animais e fazendo pela vida.

A minha avó paterna nem a cheguei a conhecer, os meus avós maternos faleceram também antes do meu nascimento e o meu avô paterno recordo-o bem com alguma saudade.

Ficava de lágrimas nos olhos quando me via lá em casa. Já éramos três ou quatro irmãos e era eu quem dormia com ele. Esta é apenas uma singela homenagem, sobretudo ao meu avô e aos meus pais, aqui recordados com muito ternura e saudade, como pessoas puras e trabalhadoras, que sempre viveram com simplicidade a vida daqueles tempos.

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